O BHAGAVAD GITA - TEXTO EM PORTUGUÊS DO LIVRO 6 BHISMA PARVA DA OBRA O MAHABHARATA
יהוה Iehouah Elohim - Iehovah D'us, Adonai Soberano pelo Judaísmo Hebraísta. Espinozismo, autoconsciência, autorrealização. Em uma visão mentalista, hebraísta, humanista, universalista. Yehowah Elohim Tseva'ot é Iehouah Elohim Dos Exércitos, El Shadai; Todo-Poderoso. Hashem; O Nome. Shem Hameforash; O Brilhante Nome De Fogo. Iehouah; O Tetragramaton - O Grande Nome de 4 Letras. Iehouah é Aquele Que Causa Que Venha A Ser. ''Porque Teu nome está em Ti e em Ti está Teu nome.'' Torah Iehouah יהוה
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
O BHAGAVAD GITA - TEXTO EM PORTUGUÊS DO LIVRO 6 BHISMA PARVA DA OBRA O MAHABHARATA
BHISMA PARVA
Traduzido para a Prosa Inglesa do Texto Sânscrito Original por Kisari Mohan Ganguli [1883-1896]
AVISO DE ATRIBUIÇÃO
Escaneado em sacred-texts.com, 2004. Verificado por John Bruno Hare, Outubro 2004. Este texto é de domínio público. Estes arquivos podem ser usados para qualquer propósito não comercial, desde que este aviso de atribuição seja mantido intacto.
Traduzido para o Português por Eleonora Meier.
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(O BHAGAVAD GITA)
Dhritarashtra disse, "Reunidos na planície sagrada de Kurukshetra pelo desejo
de lutar, o que meus filhos e os Pandavas fizeram, ó Sanjaya?"
"Sanjaya disse, ‘Vendo o exército dos Pandavas em formação de combate, o rei
Duryodhana, se aproximando do preceptor (Drona) disse estas palavras: ‘Veja, ó
preceptor, este vasto exército do filho de Pandu, organizado pelo filho de Drupada
(Dhrishtadyumna), teu discípulo inteligente. Lá (naquele exército) há muitos
arqueiros corajosos e poderosos, que em batalha são iguais a Bhima e Arjuna.
(Eles são) Yuyudhana, e Virata, e aquele poderoso guerreiro em carro Drupada, e
Dhrishtaketu, e Chekitana, e o soberano de Kasi dotado de grande energia; e
Purujit, e Kuntibhoja, e Saivya aquele touro entre homens; e Yudhamanyu de
grande coragem, e Uttamaujas de grande energia; e o filho de Subhadra, e os
filhos de Draupadi, todos os quais são fortes guerreiros em carros. Ouça, no
entanto, ó melhor dos regenerados, quem são os eminentes entre nós, os líderes
do exército. Eu citarei eles para ti para (tua) informação. (Eles são) tu mesmo, e
Bhishma, e Karna, e Kripa que é sempre vitorioso; e Aswatthaman e Vikarna, e
Saumadatta, e Jayadratha. Além desses há muitos guerreiros heróicos, dispostos
a sacrificar suas vidas por mim, armados com diversos tipos de armas, e todos
habilidosos em batalha. Nosso exército, no entanto, protegido por Bhishma, é
insuficiente. Esta tropa, no entanto, destes (os Pandavas), protegida por Bhima, é
suficiente. Posicionando-se então nas entradas das divisões que lhes foram
atribuídas, todos vocês protejam Bhishma somente.’ (Exatamente nesse
momento) o valente e venerável avô dos Kurus, proporcionando grande alegria a
ele (Duryodhana) por proferir ruidosamente um rugido leonino, soprou (sua)
concha. Então conchas e baterias e pratos e chifres foram soados imediatamente
e o barulho (feito) se tornou um tumulto alto. Então Madhava e o filho de Pandu
(Arjuna), ambos posicionados sobre um carro magnífico ao qual estavam unidos
corcéis brancos, sopraram suas conchas celestes. E Hrishikesha soprou (a
concha chamada) Panchajanya (Gigantea) e Dhananjaya (aquela chamada)
Devadatta (Theodotes); e Vrikodara de feitos terríveis soprou a concha enorme
(chamada) Paundra (Arundinca). E o filho de Kunti, o rei Yudhishthira, soprou (a
concha chamada) Anantavijaya (Triumpphatrix); enquanto Nakula e Sahadeva,
(aquelas conchas chamadas respectivamente) Sughosa (Dulcisona) e
Manipushpaka (Gemmiflora). E aquele arqueiro esplêndido, o soberano de Kasi e
aquele poderoso guerreiro em carro, Sikhandin, Dhrishtadyumna, Virata, e o
invicto Satyaki, e Drupada, e os filhos de Draupadi, e o poderosamente armado
filho de Subhadra, todos estes, ó senhor da terra, respectivamente sopraram suas
conchas. E aquele clangor, reverberando ruidosamente pelo céu e pela terra,
despedaçou os corações dos Dhartarashtras. Então vendo as tropas de
Dhartarashtra alinhadas, o filho de estandarte de macaco de Pandu, erguendo seu
arco, quando o lançamento de projéteis apenas tinha começado, disse estas
palavras, ó senhor da terra, para Hrishikesha (o senhor dos sentidos).
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Arjuna disse, 'Ó tu que não conheces deterioração, coloque meu carro (uma
vez) entre os dois exércitos, para que eu possa observar esses que estão aqui
desejosos de combate, e com quem eu terei que lutar nos labores deste conflito.
Eu observarei aqueles que estão reunidos aqui e que estão preparados para lutar
fazendo o que é agradável em batalha para o filho de mente má de Dhritarashtra.'"
Sanjaya continuou, “Assim endereçado por Gudakesa, ó Bharata, Hrishikesa,
colocando aquele carro excelente no meio dos dois exércitos, na vista de Bhishma
e Drona e de todos os reis da terra, disse, 'Observe, ó Partha, esses Kurus
reunidos.’ E lá o filho de Pritha viu, posicionados, (seus) progenitores e netos, e
amigos, e sogro e benquerentes, em ambos os exércitos. Vendo todos aqueles
parentes posicionados (lá), o filho de Kunti, possuído por extrema compaixão,
desanimadamente disse (estas palavras).”
“Arjuna disse, 'Vendo esses parentes, ó Krishna, reunidos e ávidos pela luta,
meus membros ficam lânguidos, e minha boca fica seca. Meu corpo treme, e
meus cabelos se arrepiam. O Gandiva desliza da minha mão, e minha pele
queima. Eu não posso aguentar (mais); minha mente parece vagar. Eu vejo
presságios adversos também, ó Kesava. Eu não desejo vitória, ó Krishna, nem
soberania, nem prazeres. De que utilidade a soberania seria para nós, ó Govinda,
ou prazeres, ou mesmo a vida, uma vez que eles, por cuja causa soberania,
divertimentos e prazeres são desejados por nós, estão aqui organizados para lutar
preparados para abandonar vida e riqueza, isto é, preceptores, progenitores, filhos
e avôs, tios maternos, sogros, netos, cunhados, e amigos? Eu não desejo matálos
embora eles me matem, ó matador de Madhu, nem pela soberania dos três
mundos, quanto mais então por causa (dessa) terra! Que satisfação pode ser
nossa, ó Janardana, por matar os Dhartarashtras? Mesmo que eles sejam
considerados como inimigos, o pecado nos colherá se nós os matarmos. Portanto,
não cabe a nós matarmos os filhos de Dhritarashtra que são nossos próprios
parentes. Como, ó Madhava, nós poderíamos ser felizes por matar nossos
próprios parentes? Mesmo que eles, com raciocínio pervertido pela avareza, não
vejam o mal que resulta do extermínio de uma família, e o pecado de rixas
mutuamente destrutivas, por que nós, ó Janardana, que vemos os males do
extermínio de uma linhagem, não deveríamos nos abster desse pecado? Uma
linhagem sendo destruída, os costumes eternos daquela linhagem são perdidos; e
após aqueles costumes serem perdidos o pecado domina a linhagem inteira. Por
causa da predominância do pecado, ó Krishna, as mulheres daquela linhagem se
tornam corruptas. E as mulheres se tornando corruptas, uma mistura de castas
acontece, ó descendente de Vrishni. Esta mistura de castas leva para o inferno o
destruidor da linhagem e a própria linhagem. Os ancestrais deles caem (do céu),
seus ritos de pinda e água cessando. Por estes pecados de destruidores de raças,
causando mistura de castas, as regras de casta e os ritos eternos de famílias se
tornam extintos. Nós temos ouvido, ó Janardana, que homens cujos ritos
familiares se tornam extintos sempre residem no inferno. Ai, nós decidimos
cometer um grande pecado, pois nós estamos prontos para matar nossos próprios
parentes por cobiça das doçuras da soberania. Seria melhor para mim se os filhos
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de Dhritarashtra, armas nas mãos, me matassem em batalha, (eu mesmo)
desarmado não reagindo."'
Sanjaya continuou, "Tendo falado dessa maneira no campo de batalha, Arjuna,
sua mente atormentada pela aflição, jogando de lado seu arco e flechas, sentouse
em seu carro."
[Aqui termina a primeira lição intitulada "Avaliação das Tropas" (ou A Aflição de
Arjuna), no diálogo entre Krishna e Arjuna do Bhagavadgita, a essência da
religião, do conhecimento de Brahma, e do sistema de Yoga, contido dentro do
Bhishma Parva do Mahabharata de Vyasa que contém cem mil versos.]
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Sanjaya disse, "Para ele assim cheio de compaixão, seus olhos cheios e
oprimidos por lágrimas, e desanimando, o matador de Madhu disse estas
palavras."
O Santo disse, "De onde, ó Arjuna, vem sobre ti, em tal crise, este desânimo
que é impróprio em uma pessoa de nascimento nobre, que exclui uma pessoa do
céu, e é produtivo de infâmia? Que nenhuma afeminação seja tua, ó filho de Kunti.
Isso não te fica bem. Livrando-te desta vil fraqueza de coração, levante, ó
castigador de inimigos."
Arjuna disse, "Como, ó matador de Madhu, eu posso lutar com flechas em
batalha contra Bhishma e Drona, dignos como eles são, ó matador de inimigos, de
veneração? Sem matar (os próprios) preceptores de grande glória, é certo (para
uma pessoa), viver até de esmolas neste mundo. Por matar preceptores, mesmo
que eles sejam cobiçosos de riqueza, eu somente desfrutaria de prazeres que
estariam manchados de sangue! Nós não sabemos qual dos dois é de maior
importância para nós, isto é, se nós devemos vencê-los ou eles devem nos
vencer. Por matar a quem nós não gostaríamos de viver, eles mesmos, os filhos
de Dhritarashtra, estão diante (de nós). Minha natureza afetada pela mácula da
compaixão, minha mente incerta sobre (meu) dever, eu te peço, diga-me o que é
seguramente bom (para mim). Eu sou teu discípulo. Ó, instrua-me, eu procuro teu
auxílio. Eu não vejo (aquilo) que possa dissipar essa minha aflição (que está)
destruindo minha própria razão, mesmo que eu obtenha um reino próspero sobre
a terra sem um inimigo ou a própria soberania dos deuses.’”
Sanjaya disse, “Tendo dito isso para Hrishikesa, aquele castigador de inimigos,
Gudakesa, (mais uma vez) dirigiu-se a Govinda, dizendo, 'Eu não lutarei,' e então
ficou silencioso. Para ele tomado pelo desânimo, Hrishikesa, no meio dos dois
exércitos, falou.”
"O Santo disse, 'Tu lamentas aqueles que não merecem ser lamentados. Tu
falaste também as palavras dos (assim chamados) sábios. Aqueles, no entanto,
que são (realmente) sábios, não se afligem nem pelos mortos nem pelos vivos.
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Não é que eu ou tu ou aqueles soberanos de homens nunca existimos, ou que
todos nós não existiremos futuramente. Com relação a um ser incorporado, assim
como infância, juventude, e velhice existem neste corpo, assim (também) existe a
aquisição de outro corpo. O homem que é sábio nunca é iludido nisto. Os contatos
dos sentidos com seus (respectivos) objetos produzindo (as sensações de) calor e
frio, prazer e dor não são permanentes, tendo (como tem) um início e um fim. Ó
Bharata, resista a eles. Pois o homem a quem estes não afligem, ó touro entre
homens, que é o mesmo no prazer e na dor e que é de mente firme está
preparado para a emancipação. Não há existência (objetiva) de algo que seja
distinto da alma; nem não-existência de algo que possua as virtudes da alma. Esta
conclusão em relação a ambas foi alcançada por aqueles que conhecem as
verdades (das coisas). Saiba que é imortal [a alma] pela qual todo este [universo]
é permeado. Ninguém pode realizar a destruição daquilo que é imperecível. É dito
que aqueles corpos da (Alma) incorporada que é eterna, indestrutível e infinita,
tem um fim. Portanto, lute, ó Bharata. Aquele que pensa que (a alma) é o matador
e aquele que pensa que ela é morta, ambos não sabem nada; pois ela nem mata
nem é morta. Ela nunca nasce, nem morre; nem, tendo existido, não existirá mais.
Não nascida, imutável, eterna, e antiga, ela não morre após o corpo ter perecido.
Aquele homem que sabe que ela é indestrutível, imutável, sem decadência, como
e quem ele pode matar ou fazer ser morto? Como um homem, rejeitando mantos
que estão gastos pelo uso, coloca outros que são novos, assim a (Alma)
incorporada, abandonando corpos que estão gastos, entra em outros corpos que
são novos. Armas não a perfuram, fogo não a consome; as águas não a
encharcam, nem o vento a dissipa. Ela não pode ser cortada, queimada,
encharcada, ou secada. Ela é imutável, permeia tudo, é estável, firme, e eterna. É
dito que ela é imperceptível, inconcebível e inalterável. Portanto, sabendo que ela
é assim, não cabe a ti lamentar (por ela). Então além disso mesmo se tu a
considerasse como constantemente nascida e constantemente morta, ainda não
te caberia, ó de braços fortes, lamentar (por ela) dessa maneira. Pois, de alguém
que é nascido, a morte é certa; e de alguém que está morto, o nascimento é certo.
Portanto, não cabe a ti lamentar em uma questão que é inevitável. Todos os seres
(antes do nascimento) eram imanifestos. Somente durante um intervalo (entre
nascimento e morte), ó Bharata, eles se manifestam; e então novamente, quando
a morte vem, eles se tornam (mais uma vez) imanifestos. Que tristeza então há
nisto? Uma pessoa a considera como um maravilha; outra fala dela como uma
maravilha. Contudo mesmo depois de ter ouvido sobre ela, ninguém a
compreende realmente. A (Alma) incorporada, ó Bharata, é sempre indestrutível
no corpo de todos. Portanto, não cabe a ti lamentar por todas (aquelas) criaturas.
Lançando teu olhar nos deveres (prescritos) da tua classe, não cabe a ti vacilar,
pois não há nada melhor para um Kshatriya do que uma batalha lutada de modo
justo. Chegada por si mesma e (como) um portão aberto do céu, felizes são
aqueles Kshatriyas, ó Partha, que obtém tal luta. Mas se tu não lutares tal batalha
justa, tu então incorrerás em pecado por abandonar os deveres da tua classe e
tua fama. O povo então proclamará tua infâmia eterna, e para alguém que é
considerado com respeito, a infâmia é maior (como um mal) do que a própria
morte. Todos os grandes guerreiros em carros te considerarão como te abstendo
da batalha por medo, e tu serás pouco considerado por aqueles que tinham (até
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agora) te estimado muito. Teus inimigos, depreciando tua coragem, dirão muitas
palavras que não devem ser ditas. O que pode ser mais doloroso do que isso?
Morto, tu alcançarás o céu; ou vitorioso, tu desfrutarás da Terra. Portanto, levante,
ó filho de Kunti, decidido pela batalha. Considerando prazer e dor, lucro e perda,
vitória e derrota, como iguais, lute por causa da batalha e o pecado não será teu.
Este conhecimento, que foi comunicado a ti é (ensinado) no (sistema) Sankhya.
Escute agora aquele (inculcado) no (sistema) Yoga. Possuidor daquele
conhecimento, tu, ó Partha, rejeitarás os vínculos da ação. Neste (sistema Yoga)
não há desperdício nem da primeira tentativa. Não há impedimentos. Mesmo um
pouco desta (forma de) devoção liberta de grande temor. Aqui neste caminho, ó
filho de Kuru, há somente um estado de mente, consistindo em firme devoção (a
um objetivo, isto é, assegurar a emancipação). As mentes daqueles, no entanto,
que não estão firmemente dedicados (a isto), são muito ramificadas (instáveis) e
ligadas a ocupações intermináveis. Aquela conversa floreada a qual os que são
ignorantes, que se deleitam nas palavras dos Vedas, que eles, ó Partha, que
dizem que não há nada mais, eles cujas mentes são apegadas a prazeres
mundanos, eles que consideram (um) céu (de prazeres e divertimentos) como o
mais alto objeto de aquisição, proferem e que promete nascimento como o fruto da
ação e se ocupa com diversos ritos de caráteres específicos para a obtenção de
prazeres e poder, iludem seus corações, e as mentes desses homens que são
apegados a prazeres e poder não podem ser dirigidas para contemplação (do ser
divino) considerando-a como o único meio de emancipação. Os Vedas tratam de
três qualidades, (religião, lucro, e prazer). Seja, ó Arjuna, livre delas, não afetado
por pares de contrários (tais como prazer e dor, calor e frio, etc.), sempre aderindo
à paciência sem ansiedade por novas aquisições ou proteção daquelas já
adquiridas, e controlado. Quaisquer objetos que são supridos por um tanque ou
poço, podem todos ser supridos por um lençol vasto de água que se estende por
toda parte; assim quaisquer objetos que podem ser supridos por todos os Vedas
podem todos ser tidos por um Brahmana que tem conhecimento (do Eu ou
Brahma). Teu interesse é com trabalho somente, mas não com o resultado (do
trabalho). Que o resultado não seja teu motivo para trabalho; nem que tua
tendência seja para inação. Permanecendo em devoção, dedique-te ao trabalho,
rejeitando o apego (a ele), ó Dhananjaya, e sendo o mesmo no sucesso ou
insucesso. Esta equanimidade é chamada de Yoga (devoção). Trabalho (com
desejo de resultado) é muito inferior à devoção, ó Dhananjaya. Procure a proteção
da devoção. Aqueles que trabalham por causa dos resultados são miseráveis.
Aquele também que tem devoção se livra, mesmo nesse mundo, de boas ações e
más ações. Portanto, dedique-te à devoção. Devoção é somente inteligência em
ação. O sábio, possuidor de devoção, rejeita o resultado nascido da ação, e livre
da obrigação de (repetidos) nascimentos, alcança aquela região onde não há
tristeza. Quando tua mente tiver cruzado o labirinto da ilusão, então tu obterás
uma indiferença com relação ao audível e ao ouvido. (Isto é, ao que você pode
ouvir ou ouvirá, e ao que você ouviu). Quando tua mente, distraída (agora) por que
tu ouviste (acerca dos meios de alcançar os diversos objetivos de vida), estiver
firmemente e imovelmente fixa em contemplação, então tu atingirás a devoção.'”
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"Arjuna disse, ‘Quais, ó Kesava, são as indicações de alguém cuja mente está
fixa em contemplação? Como alguém de mente constante fala, como senta, como
se move?’"
"O Santo disse, 'Quando alguém rejeita todos os desejos de seu coração e está
satisfeito dentro de si consigo, então ele é citado como de mente constante.
Aquele cuja mente não se agita em meio a calamidades, cuja ânsia por prazer
está morta, que está livre de apegos (a objetos mundanos), medo e ira, é citado
como um Muni de mente firme. A firmeza mental é daquele que é sem afeição em
todos os lugares, e que não sente exultação nem aversão ao obter diversos
objetos que são agradáveis e desagradáveis. Quando alguém afasta seus
sentidos dos objetos daqueles sentidos como a tartaruga (retrai) seus membros de
todos os lados, dele mesmo é a firmeza de mente. Os objetos dos sentidos
recuam de uma pessoa abstinente, mas não a paixão (por aqueles objetos). Até a
paixão retrocede de alguém que contempla o (Ser) Supremo. (Uma pessoa pode
se abster dos objetos de prazer, ou por escolha ou inabilidade de obtê-los. Até, no
entanto, o próprio desejo de desfrutar estar eliminado, uma pessoa não pode ser
considerada tendo obtido firmeza mental.) Os sentidos agitados, ó filho de Kunti,
arrastam à força a mente mesmo de um homem sábio que se esforça duramente
para se manter à distância deles. Reprimindo eles todos, uma pessoa deve
permanecer em contemplação, fazendo de mim seu único refúgio. Pois a firmeza
de mente é daquele cujos sentidos estão sob controle. Pensando nos objetos dos
sentidos, a atração de uma pessoa é gerada em direção a eles. Da atração surge
a ira; da ira surge a falta de discernimento; da falta de discernimento, perda de
memória; da perda de memória, perda da compreensão; e da perda da
compreensão (ela) é completamente arruinada. Mas o homem autocontrolado,
desfrutando dos objetos (dos sentidos) com sentidos livres de atração e aversão
sob seu próprio controle, atinge a paz (mental). Após a paz (mental) ser
alcançada, ocorre a aniquilação de todas as suas tristezas, já que a mente
daquele cujo coração é sereno logo se torna firme. Aquele que não é
autocontrolado não tem contemplação (do Eu). Aquele que não tem contemplação
não tem paz (mental). Como pode haver felicidade para aquele que não tem paz
(mental)? Pois o coração que segue na esteira dos sentidos que se movem (entre
seus objetos) destrói sua inteligência como o vento destruindo um barco nas
águas. Portanto, ó tu de armas poderosas, a firmeza mental é daquele cujos
sentidos estão reprimidos dos objetos dos sentidos por todos os lados. O homem
controlado está desperto quando é noite para todas as criaturas; e quando as
outras criaturas estão despertas é noite para um Muni discernente. (Os comuns,
sendo espiritualmente ignorantes, estão engajados em buscas mundanas. Os
sábios em conhecimento espiritual estão mortos para as últimas.) Aquele em
quem todos os objetos de desejo entram, assim como as águas entram no oceano
o qual (embora) constantemente reenchido contudo mantém sua linha d’água
inalterada, ele obtém paz (mental) e não alguém que anseia por objetos de desejo.
Aquele homem que se move continuamente, abandonando todos os objetos de
desejo, que está livre do desejo ardente (por diversões) e que não tem afeição e
orgulho, obtem paz (mental). Este, ó Partha, é o estado divino. Atingindo a ele,
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uma pessoa nunca é iludida. Permanecendo nele ela alcança, na morte, absorção
no Ser Supremo.'”
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"Arjuna disse, 'Se a devoção, ó Janardana, é considerada por ti como superior à
ação, por que então, ó Kesava, tu me engajas em tal trabalho terrível? Por meio
de palavras ambíguas tu pareces confundir minha compreensão. Portanto, digame
uma coisa definitivamente pela qual eu possa realizar o que é bom.'
"O Santo disse, 'Já foi dito por mim, ó impecável, que há aqui, neste mundo,
dois tipos de devoção; aquele dos Sankhyas através do conhecimento e aquele
dos yogins através da ação. Um homem não adquire liberdade da ação (somente)
pela não realização da ação. Nem ele adquire emancipação final somente da
renúncia (à ação). Ninguém pode subsistir nem por um momento sem agir. Aquele
homem de alma iludida que, refreando os órgãos dos sentidos, vive mentalmente
apreciando os objetos dos sentidos, é considerado um hipócrita. Aquele no
entanto, ó Arjuna, que reprimindo (seus) sentidos por meio de sua mente, se
engaja em devoção (na forma de) atividade com os órgãos de atividade, e está
livre de atração, é eminente (acima de todos). (Portanto), sempre te aplique ao
trabalho, pois ação é melhor do que inação. O próprio sustento do teu corpo não
pode ser realizado sem trabalho. Este mundo é agrilhoado por toda ação exceto
aquela que é (realizada) por Sacrifício (por Vishnu). (Portanto), ó filho de Kunti,
realize trabalho por causa disto, livre de atração. Nos tempos antigos, o Senhor da
Criação, criando homens e sacrifício juntos, disse, ‘Prosperem por meio deste
(Sacrifício). Que este (Sacrifício) seja para vocês (todos) o dispensador de todos
os objetos apreciados por vocês. Façam os deuses crescerem com isto, e deixem
os deuses (em retorno) fazerem vocês crescer. Assim realizando os interesses
mútuos vocês obterão aquilo que é benéfico (para vocês). Propiciados com
sacrifícios os deuses concederão a vocês os prazeres que vocês desejam. Aquele
que desfruta (sozinho) sem oferecer a eles o que eles tem dado, é
indubitavelmente um ladrão. Os bons que comem o resto de sacrifícios estão
livres de todos os pecados. Incorrem em pecado aqueles iníquos que cozinham
alimento por sua própria causa.’ Por causa do alimento existem todas as criaturas;
e sacrifício é o resultado de trabalho. Saiba que o trabalho provém dos Vedas, e
os Vedas se originaram d’Ele que não tem decadência. Portanto, o Ser Supremo
que permeia tudo está instalado em sacrifício. Aquele que não se adapta a esta
roda que está girando dessa maneira, aquele homem de vida pecaminosa que se
deleita (na indulgência de) seus sentidos, vive em vão, ó Partha. (A roda se refere
àquilo que foi dito antes, isto é, dos Vedas vem o trabalho, do trabalho a chuva, da
chuva o alimento, do alimento todas as criaturas, das criaturas novamente o
trabalho e assim de volta aos Vedas.) O homem, no entanto, que é apegado ao Eu
somente, que está contente consigo, e que está satisfeito em si mesmo, não tem
trabalho (a fazer). Ele não tem inquietação com qualquer ação nem com alguma
omissão aqui. Nem, entre todas as criaturas, há alguma da qual seu interesse
dependa. (Tal homem não ganha mérito por ação, nem pecado por inação ou
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omissão. Nem há alguém desde o Ser Supremo até a mais baixa criatura de quem
ele dependa para alguma coisa.) Portanto, sempre faça o trabalho que deve ser
feito, sem apego. O homem que realiza ação sem apego alcança o Supremo.
Somente pelo trabalho, Janaka e outros alcançaram a realização de seus
objetivos. Tendo consideração também pelo cumprimento por homens de seus
deveres, cabe a ti trabalhar. Qualquer coisa que um grande homem faça é
também feita pelas pessoas comuns. Homens comuns seguem o ideal
estabelecido por eles (os grandes). Não há nada em absoluto para mim, ó Partha,
fazer nos três mundos, (já que eu não tenho) nada que não tenha sido adquirido
por mim; entretanto eu me dedico à ação. Porque se em algum momento eu não,
sem preguiça, me engajasse em ação, os homens seguiriam meu caminho, ó
Partha, por toda parte. Os mundos pereceriam se eu não realizasse trabalho, e eu
causaria mistura de castas e arruinaria estas pessoas. Como os ignorantes
trabalham, ó Bharata, tendo apego pelo realizador, assim um homem sábio deve
trabalhar sem ser apegado, desejando fazer homens cumpridores de seus
deveres. Um homem sábio não deve causar confusão de compreensão entre
pessoas ignorantes, que tem apego ao próprio trabalho; (por outro lado) ele deve
(ele mesmo), agindo com devoção, engajá-los em todos (os tipos de) trabalho.
Todas as atividades são, de todas as maneiras, feitas pelas qualidades da
natureza (natureza significando matéria primordial). Aquele cuja mente está iludida
pelo egoísmo, no entanto, considera a si mesmo como o ator. Mas aquele, ó de
braços fortes, que conhece a distinção (do Eu) das qualidades e trabalho, não é
apegado ao trabalho, considerando que são seus sentidos somente (e não ele
mesmo) que se ocupam de seus objetos. Aqueles que são iludidos pelas
qualidades da natureza ficam ligados às ações feitas pelas qualidades. Uma
pessoa de conhecimento perfeito não deve confundir aqueles homens de
conhecimento imperfeito. Dedicando todo trabalho a mim (isto é, na crença de que
tudo o que você faz é por mim ou por minha causa), com (tua) mente dirigida ao
Eu, empenhe-te na batalha, sem desejo, sem afeto e com tua fraqueza (de
coração) dissipada. Aqueles homens que sempre seguem esta minha opinião com
fé e sem cavilação alcançam a emancipação final até por trabalho. Mas aqueles
que contestam capciosamente e não seguem esta minha opinião, saiba que,
privados de todo conhecimento e sem discernimento, eles são arruinados. Mesmo
um homem sábio age de acordo com sua própria natureza. Todos os seres vivos
seguem (sua própria) natureza. Qual então seria a utilidade da restrição? Os
sentidos tem, com relação aos objetos dos sentidos, ou atração ou aversão fixas.
Uma pessoa não deve se submeter a elas, pois elas são obstáculos no caminho.
(Os sentidos, com relação aos seus diversos objetos no mundo, são ou puxados
em direção a eles ou repelidos por eles. Estes gostos e desgostos (no caso dos
homens que, é claro, somente agem de acordo com sua natureza) ficam no
caminho de sua emancipação, se os homens cedem a eles.) O próprio dever,
mesmo que imperfeitamente realizado, é melhor do que ser feito por outro mesmo
se bem realizado. Morte (na realização do) próprio dever é preferível. (A adoção
do) dever de outro carrega temor (consigo).’
"Arjuna disse, 'Impelido por quem, ó filho da linhagem Vrishni, um homem
comete pecado, mesmo que relutante e como se obrigado pela força'?
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"O Santo disse, 'É o desejo, é a ira, nascido do atributo de paixão; ele devora
tudo, ele é muito pecaminoso. (O desejo, se não satisfeito, resulta em ira). Saiba
que este é o inimigo neste mundo. Como fogo é envolvido por fumaça, um espelho
por poeira, o feto pelo útero, assim este mundo é envolvido pelo desejo. O
conhecimento, ó filho de Kunti, é envolvido por este constante inimigo dos sábios
na forma de desejo o qual é insaciável e como um fogo. Os sentidos, a mente e o
intelecto são considerados como sua residência. Com estes ele ilude o ser
incorporado, envolvendo (seu) conhecimento. Portanto, controlando (teus)
sentidos primeiro, ó touro da raça Bharata, rejeite esta coisa pecaminosa, pois ela
destrói o conhecimento derivado de instrução e meditação. É dito que os sentidos
são superiores (ao corpo que é inerte). Superior aos sentidos é a mente. Superior
à mente é o conhecimento. Mas o que é superior ao conhecimento é Ele (a Alma
ou Ser Supremo). Conhecendo dessa maneira aquilo que é superior ao
conhecimento e controlando (teu) eu por meio do eu, mate, ó de braços fortes, o
inimigo na forma de desejo o qual é difícil de se subjugar.'"
28
"O Santo disse, 'Este imperecível (sistema de) devoção eu declarei para
Vivaswat; Vivaswat o declarou para Manu; e Manu o comunicou para Ikshaku.
Descendo assim de geração, os sábios nobres vieram a conhecê-lo. Mas, ó
castigador de inimigos, pelo (intervalo de um) longo tempo aquela devoção se
tornou perdida para o mundo. O mesmo (sistema de) devoção foi hoje declarado
por mim para ti, pois tu és meu devoto e amigo, (e) este é um grande mistério.'
"Arjuna disse, 'Teu nascimento é posterior; o nascimento de Vivaswat é
anterior. Como eu entenderei então que tu declaraste (isto) primeiro?'
"O Santo disse, 'Muitos nascimentos meus se passaram, ó Arjuna, como
também teus. Estes todos eu conheço, mas tu não, ó castigador de inimigos.
Embora (eu seja) não nascido e de essência que não conhece deterioração,
embora (eu seja) o senhor de todas as criaturas, entretanto, confiando em minha
própria natureza (material) eu tomo nascimento por meio dos meus próprios
(poderes) de ilusão. Sempre que, ó Bharata, a perda de piedade e o aumento de
impiedade ocorrem, nessas ocasiões eu crio a mim mesmo. Para a proteção dos
justos e para a destruição dos fazedores de males, para estabelecer a Devoção,
eu nasço era após era. Aquele que realmente conhece meu nascimento e trabalho
divinos como sendo desta maneira, abandonando (seu corpo) não nasce outra
vez; (por outro lado) ele vem a mim, ó Arjuna. Muitos que eram livres de atração,
medo, ira, que estavam repletos de mim, e que confiavam em mim, tem,
purificados por conhecimento e ascetismo, atingido a minha essência. De qualquer
maneira que os homens venham a mim, da mesma maneira eu os aceito. É meu
caminho, ó Partha, que os homens seguem por toda parte. (Seja qual for o tipo de
adoração, sou Eu que sou adorado. Nenhuma forma de culto é inaceitável para
mim.) Aqueles neste mundo que estão desejosos do êxito em ação adoram os
55
deuses, pois nesse mundo de homens sucesso resultante de ação é logo
alcançado. A divisão quádrupla de castas foi criada por mim segundo a distinção
de qualidades e deveres. Embora eu seja o autor delas, (contudo) saiba que eu
não sou seu autor e imperecível, (isto é, sou inativo e imorredouro. Trabalho
implica esforço, e, portanto, perda de energia. Em mim não há ação, nenhuma
perda de energia e portanto, nenhuma decadência.) As ações não me tocam. Eu
não tenho desejo pelos resultados das ações. Aquele que me conhece dessa
maneira não é impedido pelas ações. Sabendo disso, até os homens de
antigamente que eram desejosos de emancipação realizaram trabalho. Portanto,
tu também realize trabalho como foi feito pelos antigos do passado remoto. O que
é ação e o que é inação, até os eruditos são desorientados por isto. Portanto, eu
te falarei sobre ação (para que) sabendo disto tu possas ser libertado do mal. Uma
pessoa deve ter conhecimento de ação, e deve ter conhecimento de ações
proibidas; ela deve também saber a respeito de inação. O curso de ação é
incompreensível. Aquele que vê inação em ação e ação em inação é sábio entre
os homens; ele é possuidor de devoção; e ele é um fazedor de todas as ações. Os
eruditos chamam de sábio aquele cujos esforços são todos livres do desejo (de
resultado) e (consequente) desejo (de agir), e cujas ações foram todas
consumidas pelo fogo do conhecimento. Quem quer que, renunciando à toda
atração pelo fruto da ação, está sempre contente e não é dependente de ninguém,
não faz nada, de fato, embora engajado em ação. Aquele que, sem desejo, com
mente e sentidos sob controle, e abandonando todas as inquietações, realiza ação
somente para a conservação do corpo, não incorre em pecado. Aquele que está
satisfeito com o que é ganho sem esforço, que se elevou acima dos pares de
opostos, que é sem ciúmes, que é equânime em sucesso e fracasso, não é
agrilhoado (pela ação) embora ele trabalhe. Perecem todas as ações daquele que
trabalha por causa de sacrifício, (por causa da Alma Suprema; o que é feito por
sacrifício é feito para obter emancipação), que é sem afeições, que é livre (de
atrações), e cuja mente está fixa no conhecimento. Brahma é o recipiente (com o
qual a libação é derramada); Brahma é a libação (que é oferecida); Brahma é o
fogo sobre o qual por Brahma é despejada (a libação); Brahma é a meta para qual
ele procede por fixar sua mente no próprio Brahma o qual é a ação. (No caso de
tal pessoa acontece uma completa identificação com Brahma, e quanto tal
identificação ocorre, a ação é destruída.) Alguns devotos realizam sacrifício para
os deuses. Outros, por meio de sacrifício, oferecem sacrifícios ao fogo de Brahma,
(oferecendo o próprio sacrifício como um sacrifício para o fogo Brahma, eles se
livram de toda ação.) Outros oferecem (como libação sacrifical) os sentidos dos
quais a audição é o primeiro ao fogo da restrição. Outros (também) oferecem
(como libações) os objetos dos sentidos dos quais som é o primeiro ao fogo dos
sentidos. (Oferecer os sentidos ao fogo da restrição significa controlar os sentidos
pela prática de Yoga. Oferecer os objetos dos sentidos significa não atração por
aqueles objetos.) Outros (além disso) oferecem todas as funções dos sentidos e
as funções dos ares vitais ao fogo da devoção por autodomínio aceso pelo
conhecimento; (suspendendo as funções vitais por contemplação ou Yoga).
Outros também realizam o sacrifício de riqueza, o sacrifício de austeridades
ascéticas, o sacrifício de meditação, o sacrifício de estudo (Védico), o sacrifício de
conhecimento, e outros são ascetas de votos rígidos. Alguns oferecem o ar vital
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ascendente (Prana) ao ar vital descendente (Apana); e outros, o ar vital
descendente ao ar vital ascendente; alguns, detendo o curso dos ares vitais
ascendentes e descendentes, estão dedicados à retenção dos ares vitais. Outros
de ações controladas oferecem os ares vitais aos ares vitais. (Todos estes são
diferentes tipos de Yoga, ou os diferentes estágios da prática de Yoga.) Todos
estes que estão familiarizados com sacrifícios, cujos pecados tem sido
consumidos por sacrifício, e que comem os restos de sacrifícios os quais são
amrita, alcançam ao eterno Brahma. (Nem) este mundo é para aquele que não
realiza sacrifício. Como então (seria) o outro, ó melhor da família de Kuru? Dessa
maneira diversos são os sacrifícios que se acham nos Vedas. Saiba que todos
eles resultam de ação, e sabendo disso tu serás emancipado. O sacrifício do
conhecimento, ó castigador de inimigos, é superior a todo sacrifício que envolve (a
obtenção de) resultados de ação, pois toda ação, ó Partha, está totalmente
contida no conhecimento. (Isto é, o conhecimento sendo alcançado, os frutos da
ação são alcançados por, pelo menos, seu objetivo ser realizado.) Aprenda aquele
(Conhecimento) por prostração, indagação, e serviço. Aqueles que possuem
conhecimento e podem ver a verdade te ensinarão aquele conhecimento, sabendo
o qual, ó filho de Pandu, tu não obterás novamente tal ilusão, e pelo qual tu verás
as criaturas infinitas (do universo) em ti mesmo (primeiro) e então em mim. Mesmo
se tu fosses o maior pecador entre todos os que são pecaminosos, tu ainda
passarias por cima de todas as transgressões pela balsa do conhecimento. Como
um fogo ardente, ó Arjuna, reduz combustível a cinzas, assim o fogo do
conhecimento reduz todas as ações a cinzas. Pois não há nada aqui que seja tão
purificador como o conhecimento. Alguém que alcançou o êxito por devoção o
encontra sem esforço dentro de si mesmo com o tempo. Obtém conhecimento
aquele que tem fé e está concentrado nisto e que tem seus sentidos sob controle;
obtendo conhecimento uma pessoa encontra a maior tranquilidade imediatamente.
Alguém que não tem conhecimento e nenhuma fé, e cuja mente está cheia de
dúvidas, está perdido. Nem este mundo, nem o próximo, nem felicidade é para
aquele cuja mente está cheia de dúvidas. As ações não agrilhoam, ó Dhananjaya,
aquele que rejeitou ação por devoção, cujas dúvidas foram dissipadas pelo
conhecimento, e que é auto-controlado. Portanto, destruindo, pela espada do
conhecimento, esta tua dúvida que é nascida da ignorância e que mora em tua
mente, dirija-te à devoção, (e) levante, ó filho de Bharata.'”
29
"Arjuna disse, 'Tu aclamaste, ó Krishna, o abandono das ações, e novamente a
aplicação (a elas). Diga-me definitivamente qual destes dois é superior.’
"O Santo disse, 'O abandono das ações e aplicação às ações ambos levam à
emancipação. Mas destes, aplicação à ação é superior ao abandono. Deve ser
sempre reconhecido como um asceta aquele que não tem aversão nem desejo.
Pois, sendo livre dos pares de opostos, ó tu de braços poderosos, ele é facilmente
libertado dos vínculos (da ação). Tolos dizem, mas não aqueles que são sábios,
que Sankhya e Yoga são distintos. Alguém que permanece em um (dos dois)
57
colhe o fruto de ambos (Sankhya é renúncia à ação, enquanto Yoga é devoção
através da ação.) Qualquer assento que é alcançado por aqueles que professam o
sistema Sankhya também é alcançado por aqueles que professam o Yoga. Vê
verdadeiramente quem vê Sankhya e Yoga como um. Mas renúncia, ó
poderosamente armado, sem devoção (à ação), é difícil de se alcançar. O asceta
que está engajado em devoção (por meio da ação) alcança o Ser Supremo sem
demora. Aquele que está engajado em devoção (por meio da ação) e é de alma
pura, que tem conquistado seu corpo e subjugado seus sentidos, e que se
identifica com todas as criaturas, não é agrilhoado embora realizando (ação). O
homem de devoção, que sabe a verdade, pensa ‘Eu não estou fazendo nada’
quando vendo, ouvindo, tocando, cheirando, comendo, se movendo, dormindo,
respirando, falando, excretando, pegando (algo com as mãos), abrindo as
pálpebras ou fechando-as; ele considera que são os sentidos que estão ocupados
nos objetos dos sentidos. Aquele que renunciando ao apego se engaja em ações,
submetendo-as a Brahma, não é tocado pelo pecado como a folha do lótus (não é
tocada) pela água. (A água quando jogada sobre uma folha de lótus escapa sem
molhar ou encharcar a folha em absoluto.) Aqueles que são devotos,
abandonando o apego, realizam ações (obtendo) pureza pessoal, com o corpo, a
mente, o intelecto, e até os sentidos (livres de desejo). Aquele que é possuidor de
devoção, renunciando ao fruto da ação, alcança a tranquilidade mais elevada.
Aquele que não possui devoção e é apegado ao fruto da ação é agrilhoado pela
ação realizada por desejo. O (ser) incorporado auto-controlado, renunciando a
todas ações por meio da mente, permanece tranquilo dentro da casa de nove
portas, nem agindo ele mesmo nem fazendo (qualquer coisa) agir. (O corpo é
descrito como uma cidade de nove portas, tendo dois olhos, dois ouvidos, duas
narinas, uma boca, e as duas aberturas para excreções.) O Senhor não é a causa
da capacidade para ação, ou das ações dos homens, ou da conexão de ações e
(seus) frutos. É a natureza que se envolve (em ação). O Senhor não recebe os
pecados de alguém, nem também mérito. Pela ignorância, o conhecimento é
escondido. É por isso que as criaturas são iludidas. Mas de quem quer que a
ignorância tenha sido destruída pelo autoconhecimento, aquele conhecimento (o
qual é) como o Sol revela o Ser Supremo. Aqueles cujas mentes estão n’Ele, cuja
própria alma é Ele, que residem n’Ele, e que tem a Ele como sua meta, partem
para nunca mais voltar, seus pecados sendo todos destruídos pelo conhecimento.
(Tais homens são dispensados da obrigação do renascimento. Deixando este
corpo eles imergem na Alma Suprema.) Aqueles que são sábios lançam um olhar
igual em um Brahmana dotado de erudição e modéstia, em uma vaca, um
elefante, um cachorro, e um chandala (um membro da casta mais baixa). Aqui
mesmo o nascimento foi conquistado por aqueles cujas mentes repousam na
igualdade; e já que Brahma é impecável e uniforme, portanto, (é dito que) eles
residem em Brahma. Aquele cuja mente é firme, que não é iludido, que conhece
Brahma, e que descansa em Brahma, não exulta ao obter alguma coisa que é
agradável, nem ele se aflige ao obter o que é desagradável. Aquele cuja mente
não está ligada a objetos externos dos sentidos, obtém aquela felicidade que se
encontra no Eu; e por concentrar sua mente na contemplação de Brahma, ele
desfruta de uma felicidade que é imperecível. Os prazeres nascidos do contato
(dos sentidos com seus objetos) são produtivos de tristeza. Aquele que é sábio, ó
58
filho de Kunti, nunca tem prazer nestes que tem um início e um fim. Aquele
homem seja quem for aqui, antes da dissolução do corpo, é capaz de aguentar as
agitações resultantes de desejo e ira, está fixo em contemplação, e é feliz. Aquele
que encontra felicidade dentro de si mesmo, (e) que se diverte dentro de si
mesmo, ele cuja luz (de conhecimento) é derivada de dentro de si mesmo é um
devoto, e tornando-se uno com Brahma atinge absorção em Brahma. Aquelas
pessoas santas cujos pecados foram destruídos, cujas dúvidas foram dissipadas,
que são auto-controladas, e que são dedicadas ao bem de todas as criaturas,
obtem absorção em Brahma. Para estes devotos que estão livres de desejo e ira,
cujas mentes estão sob controle, e que tem conhecimento do eu, absorção em
Brahma existe aqui e futuramente. Excluindo (de sua mente) todos os objetos
externos dos sentidos, dirigindo o olhar visual entre as sobrancelhas, misturando
(em um) os ares vitais ascendente e descendente e fazendo-os passar pelas
narinas, o devoto, que tem controlado os sentidos, a mente, e o intelecto, estando
concentrado na emancipação, e que está livre de desejo, medo, e ira, está
emancipado, de fato. Sabendo que eu sou o desfrutador de todos sacrifícios e
austeridades ascéticas, o grande Senhor de todos os mundos, e amigo de todas
as criaturas, tal pessoa obtem tranquilidade.'”
30
"O Santo disse, 'Indiferente ao resultado da ação, aquele que realiza as ações
que devem ser realizadas é um renunciador e devoto (Sannyasin e Yogin), e não
alguém que descarta o fogo (sacrifical), nem alguém que se abstém da ação.
Aquilo que é chamado de renúncia, saiba que, ó filho de Pandu, é devoção, já que
não pode ser um devoto quem não renunciou a (todas) as resoluções (as quais
surgem do desejo). Para o sábio desejoso de se elevar à devoção, a ação é citada
como o modo; e quando ele se elevou à devoção, a cessação da ação é citada
como o modo. Quando alguém não é mais apegado aos objetos dos sentidos,
nem às ações, e quando ele renuncia a todas as resoluções, então é dito que ele
se elevou à devoção. Uma pessoa deve elevar (seu) eu pelo eu; ela não deve
degradar (seu) eu; pois seu próprio eu é seu amigo, e seu próprio eu é seu
inimigo. (A mente, a menos que controlada, não pode levar à devoção.) (Somente)
para aquele que subjuga seu eu por meio de seu eu o eu é um amigo. Mas para
aquele que não subjuga seu eu, seu eu se comporta hostilmente como um inimigo.
A alma de alguém que subjuga seu eu e que está no desfrute de tranquilidade
está firmemente fixa (em si mesma) em meio a frio e calor, prazer e dor, e também
honra e desonra. É citado como devotado aquele asceta cuja mente está satisfeita
com conhecimento e experiência, que não tem afeição, que tem subjugado seus
sentidos, e para quem um torrão, uma pedra e ouro são iguais. Aquele que
considera igualmente benquerentes, amigos, inimigos, desconhecidos que são
indiferentes a ele, aqueles que tomam parte em ambos os lados, aqueles que são
objetos de aversão, aqueles que são parentes (dele), aqueles que são bons, e
aqueles que são maus, é notável (acima de todos os outros). Um devoto deve
sempre fixar sua mente em contemplação, permanecendo sozinho em um lugar
59
retirado, controlando sua mente e corpo, sem expectativas (de qualquer tipo), e
sem preocupar-se (com alguma coisa). Instalando seu assento imovelmente em
um local limpo, não muito alto nem muito baixo, e espalhando sobre ele um tecido,
uma pele de veado, ou folhas de erva Kusa, e lá sentado naquele assento, com
mente fixa em um objeto, e refreando as funções do coração e os sentidos, ele
deve praticar contemplação para a purificação do eu. Mantendo corpo, cabeça, e
pescoço alinhados, imóveis e firmes, e lançando seu olhar sobre a ponta de seu
nariz, e sem olhar em volta em alguma das diferentes direções, com mente em
tranquilidade, livre do medo, observador das práticas de Brahmacharins,
reprimindo a mente, com coração fixo em mim, o devoto deve se sentar, me
considerando como o objeto de seu alcance. Dessa maneira aplicando sua alma
constantemente, o devoto cujo coração é controlado alcança aquela tranquilidade
a qual culmina em absorção final e assimilação em mim. A devoção (Yoga) não é
de alguém, ó Arjuna, que come muito, nem de alguém que não come em absoluto;
nem de alguém que é viciado em dormir muito, nem de alguém que está sempre
desperto. Devoção que é destrutiva de miséria é daquele que é moderado em
alimento e diversões, que devidamente se esforça moderadamente em todas as
suas atividades, e que é moderado em sono e vigílias. Quando o coração de
alguém, devidamente controlado, está fixo em seu próprio Eu (afastado de todos
os objetos dos sentidos), então, indiferente a todos os objetos de desejo, ele é
alguém chamado de devoto. Como uma lâmpada em um local sem vento não
tremula, esta mesma é a semelhança declarada de um devoto cujo coração foi
controlado e que consagra seu eu à abstração. Aquela (condição) na qual a
mente, reprimida pela prática de abstração, repousa, na qual contemplando o eu
pelo eu uma pessoa está satisfeita dentro de si mesma; na qual ela sente aquela
felicidade mais sublime que está além (da esfera dos) sentidos e que (somente) a
compreensão pode alcançar, e fixada na qual uma pessoa nunca se desvia da
verdade; adquirindo a qual ninguém considera outra aquisição maior do que ela, e
permanecendo na qual uma pessoa nunca é movida nem pela tristeza mais forte;
deve ser conhecida como a que é chamada devoção aquela (condição) na qual há
um rompimento de ligação com a dor. Aquela devoção deve ser praticada com
perseverança e com um ânimo firme. Renunciando sem exceção a todos os
desejos que são nascidos de resoluções, reprimindo totalmente o grupo dos
sentidos só pela mente, uma pessoa deve, por passos lentos, tornar-se tranquila
(auxiliada) por (seu) intelecto controlado por paciência, e então dirigindo sua
mente ao Eu não deve pensar em nada. Para onde quer que a mente, a qual é
(por natureza) inquieta e instável, possa correr, refreando-a disso, uma pessoa
deve dirigi-la para o Eu somente. De fato, para tal devoto cuja mente está em
tranquilidade, cujas paixões foram suprimidas, que se tornou uno com Brahma e
que está livre do pecado, a maior felicidade vem (por iniciativa própria). Assim
aplicando sua alma constantemente (à abstração), o devoto, livre do pecado,
obtém facilmente aquela felicidade sublime, isto é, com Brahma. Aquele que
dedica seu eu à abstração lançando um olhar igual em todos os lugares, vê a si
mesmo em todas as criaturas e todas as criaturas em si mesmo. Para ele que me
vê em tudo e vê tudo em mim, eu nunca estou perdido e ele também nunca está
perdido para mim; (isto é, eu sou sempre visível para ele, e ele também está
sempre dentro da minha vista e eu sou sempre bondoso para ele.) Aquele que me
60
reverencia como residindo em todas as criaturas, considerando também que tudo
é um, é um devoto, e qualquer que seja o modo de vida que ele leve, ele vive em
mim. Aquele devoto, ó Arjuna, que lança um olhar igual em todos os lugares,
considerando todas as coisas como seu próprio eu e a felicidade e tristeza de
outros como sua própria, é considerado o melhor.'
"Arjuna disse, 'Esta devoção por meio de equanimidade que tu declaraste, ó
matador de Madhu, por conta da inquietação da mente eu não vejo sua presença
estável; (isto é, como sua existência estável pode ser assegurada, a mente sendo
por natureza sempre inquieta.) Ó Krishna, a mente é agitada, tumultuosa,
perversa, e obstinada. Seu controle eu considero como de realização tão difícil
como o controle do vento.'
"O Santo disse, 'Sem dúvida, ó tu de armas poderosas, a mente é de
subjugação difícil e é inquieta. Com a prática, no entanto, ó filho de Kunti, e com o
abandono do desejo, ela pode ser controlada. É minha opinião que para aquele
cuja mente não é controlada a devoção é de aquisição difícil. Mas por alguém cuja
mente é controlada e que é assíduo, ela pode ser adquirida com a ajuda de
meios.'
"Arjuna disse, 'Sem assiduidade, embora dotado de fé, e com a mente agitada
para longe da devoção, qual é o fim daquele, ó Krishna, que não obteve êxito em
devoção? Caído de ambos, (do céu (por trabalho) e de absorção em Brahma (por
devoção)), ele é perdido como uma nuvem separada ou não, sendo como ele é
sem refúgio, ó tu de braços poderosos, e iludido no caminho que leva à Brahma?
Esta minha dúvida, ó Krishna, cabe a ti remover sem deixar qualquer coisa, (isto é,
removê-la completamente). Além de ti, nenhum dissipador desta dúvida é para ser
tido.’
"O Santo disse, 'Ó filho de Pritha, nem nesse mundo nem no seguinte a ruína
existe para ele, já que ninguém, ó senhor, que realiza boas (ações) obtém um fim
infeliz. Alcançando as regiões reservadas para aqueles que realizam atos
meritórios e vivendo lá por muitos e muitos anos, aquele que abandonou a
devoção toma nascimento na residência daqueles que são pios e dotados de
prosperidade, ou, ele nasce até na família de devotos dotados de inteligência. De
fato, um nascimento tal como este é de aquisição muito difícil neste mundo.
Naquele nascimento ele obtem contato com aquele conhecimento Brâhmico o qual
era dele em sua vida anterior; e a partir daquele ponto ele se esforça novamente,
ó descendente de Kuru, em direção à perfeição. E embora relutante, ele ainda
continua se desenvolvendo por aquela mesma prática antiga dele. Até alguém que
perguntou sobre devoção se eleva acima dos (frutos) da Palavra Divina; (isto é,
dos Vedas. Tão grande é a eficácia da devoção que alguém meramente se
informando sobre ela transcende aquele que obedece aos ritos dos Vedas.)
Empenhando-se com grandes esforços, o devoto, purificado de todos os seus
pecados, atinge a perfeição depois de muitos nascimentos, e então alcança a
meta suprema. O devoto é superior aos ascetas engajados em austeridades; ele é
considerado superior até ao homem de conhecimento. O devoto é superior
àqueles que estão engajados em ação. Portanto, torne-te um devoto, ó Arjuna.
61
Mesmo entre todos os devotos, aquele que, cheio de fé e com a alma repousando
em mim, me venera, é considerado por mim como o mais dedicado."
31
"O Santo disse, 'Ouça, ó filho de Pritha, como, sem dúvida, tu podes me
conhecer totalmente, fixando tua mente em mim, praticando devoção, e te
refugiando em mim. Eu te falarei agora, sem deixar qualquer coisa, sobre
conhecimento e experiência, conhecendo os quais não sobrará nada neste mundo
(para ti) conhecer. Um entre milhares de homens se esforça pela perfeição (isto é,
pelo conhecimento de si mesmo). Mesmo daqueles que são assíduos e
alcançaram a perfeição, somente alguns (muito poucos) me conhecem realmente.
Terra, água, fogo, ar, espaço, mente, também intelecto, e consciência, dessa
maneira minha natureza é dividida em oito partes. Esta é uma (forma) inferior (da
minha) natureza. Diferente desta, saiba que há uma (forma) superior (da minha)
natureza que é animada, ó tu de braços fortes, e pela qual este universo é
mantido. Saiba que todas as criaturas tem estas como sua fonte. Eu sou a fonte
da evolução e também da dissolução do universo inteiro. Não há nada mais, ó
Dhananjaya, que seja mais elevado do que eu mesmo. Em mim está tudo isso
como uma fileira de pérolas em um cordão. Eu sou o sabor nas águas, ó filho de
Kunti, (e) eu sou o esplendor da lua e do sol, eu sou o Om em todos os Vedas, o
som no espaço, e a virilidade nos homens. Eu sou o odor fragrante na terra, o
esplendor no fogo, a vida em todas as criaturas (viventes), e penitência em
ascetas. Saiba, ó filho de Pritha, que eu sou a semente eterna de todos os seres.
Eu sou a inteligência de todas as criaturas dotadas de inteligência, a glória de
todos os objetos gloriosos. Eu sou também a força de todos os que são dotados
de força, (eu mesmo) livre de desejo e ânsia, e, ó touro da raça Bharata, sou o
desejo, consistente com dever, em todas as criaturas. E todas as existências que
são da qualidade de bondade, e as que são da qualidade de paixão e da
qualidade de ignorância, saiba que elas são, de fato, de mim. Eu, no entanto, não
estou nelas, mas elas estão em mim. Todo este universo, iludido por estas três
entidades consistindo (nessas) três qualidades não conhece a mim que estou
além delas e (sou) imperecível; já que esta minha ilusão, dependendo das (três)
qualidades, é muito maravilhosa e muito difícil de ser transcendida. Somente
aqueles que recorrem a mim atravessam esta ilusão. Fazedores de mal, homens
ignorantes, os piores de sua espécie, roubados de seu conhecimento por (minha)
ilusão e ligados à condição de demônios, não recorrem a mim. Quatro classes de
fazedores de bons atos me adoram, ó Arjuna, isto é, aquele que está aflito, que é
possuidor de conhecimento, sendo sempre devotado e tendo sua fé somente em
Um é superior ao resto, pois para o homem de conhecimento eu sou caro acima
de tudo, e ele também é caro para mim. Todos estes são nobres. Mas o homem
de conhecimento é considerado (por mim) como meu próprio eu, já que ele, com
alma fixa em abstração, se refugia em mim como a meta mais elevada. No fim de
muitos nascimentos, o homem possuidor de conhecimento alcança a mim,
(pensando) que Vasudeva é tudo isto. Tal pessoa de grande alma, no entanto, é
62
extremamente rara. Aqueles que são privados de conhecimento pelo desejo
recorrem às suas divindades, observadores de diversos regulamentos e
controlados por sua própria natureza (isto é, temperamento como dependente das
ações de suas vidas passadas.) Qualquer forma, (de divindade ou eu mesmo) que
algum devoto deseje cultuar com fé, aquela sua fé naquela (forma) eu torno firme.
Dotado daquela fé, ele presta suas adorações àquela (forma), e obtém dela todos
os seus desejos, já que todos aqueles são ordenados por mim. Os frutos, no
entanto, daquelas pessoas dotadas de pouca inteligência são perecíveis. (As
divindades sendo perecíveis, o que elas obtem é perecível.) Aqueles que adoram
as divindades vão às divindades, (enquanto) aqueles que me adoram vem até
mim. (Eu mesmo sendo imperecível, o que meus adoradores obtem é
imperecível.) Aqueles que não tem discernimento, consideram a mim que sou
(realmente) imanifesto como tendo me tornado manifesto, porque eles não
conhecem o meu estado transcendente e imperecível ao qual não há nada
superior. Encoberto pela ilusão do meu poder inconcebível, eu não estou
manifesto para todos. Este mundo iludido não conhece a mim que sou não
nascido e imorredouro. Eu conheço, ó Arjuna, todas as coisas que são passadas,
e todas as coisas que são presentes, e todas as coisas que são futuras. Mas não
há ninguém que me conheça. Todas as criaturas, ó castigador de inimigos, são
iludidas no momento de seu nascimento pela ilusão, ó Bharata, dos pares de
opostos resultantes do desejo e aversão. Mas aquelas pessoas de atos meritórios
cujos pecados alcançaram seu fim, sendo livres da ilusão dos pares de opostos,
me adoram, firmes em seu voto (daquele culto). Aqueles que, se refugiando em
mim, se esforçam para se libertar de decadência e morte, conhecem Brahman,
todo o Adhyatma (tudo aquilo pelo qual Brahman é para ser alcançado), e ação,
(todo o curso de deveres e práticas que levam ao conhecimento de Brahman.) E
aqueles que me reconhecem como o Adhibhuta, o Adhidaiva, e o Adhiyajna, tendo
mentes fixas em abstração, me conhecem no momento de sua partida (deste
mundo).’”
32
"Arjuna disse, 'O que é Brahman, o que é Adhyatma, o que é ação, ó melhor
dos seres masculinos? O que também é citado como Adhibhuta, e o que é
chamado de Adhidaiva? O que é aqui Adhiyajna, e como, neste corpo, ó matador
de Madhu? E como na hora da partida tu deves ser conhecido por aqueles que
tem controlado seu eu? '
"O Santo disse, 'Brahman é o Supremo e indestrutível. Adhyatma é citado como
sua própria manifestação. A oferenda (para alguma divindade em um sacrifício) a
qual causa a produção e desenvolvimento de todos, isso é chamado de ação.
Lembrando somente de mim em (seus) últimos momentos, aquele que,
abandonando seu corpo, parte (daqui), entra em minha essência. Não há dúvida
nisto. Qualquer forma (de divindade) que uma pessoa lembre quando ela
abandona, no fim, (seu) corpo, àquela ela vai, ó filho de Kunti, tendo
habitualmente meditado nela sempre. Portanto, pense em mim em todos os
63
momentos, e te engaje em batalha. Fixando tua mente e intelecto em mim, tu, sem
dúvida, virás até a mim. Pensando (no Supremo) com uma mente não correndo
para outros objetos e dotada de abstração na forma de aplicação ininterrupta, uma
pessoa vai, ó filho de Pritha, para o Divino e Supremo Ser masculino. Aquele que
na hora de sua partida, com uma mente firme, dotado de reverência, com poder
de abstração, e dirigindo o ar vital chamado Prana entre as sobrancelhas, pensa
naquele vidente antigo, que é o soberano (de todos), que é mais minúsculo do que
o átomo mais minúsculo, que é o ordenador de tudo, que é inconcebível em forma,
e que está além de toda escuridão, vai àquele Divino e Supremo Ser Masculino.
Eu te falarei em poucas palavras acerca daquela base a qual pessoas
familiarizadas com os Vedas declaram ser indestrutível, na qual entram ascetas
livres de todos os desejos, e na expectativa da qual (as pessoas) praticam os
votos de Brahmacharins. Abandonando (este) corpo, aquele que parte,
bloqueando todas as portas (os sentidos), confinando a mente dentro do coração
(afastando a mente de todos os objetos externos), colocando seu próprio ar vital
chamado Prana entre as sobrancelhas, repousando em contínua meditação,
proferindo esta única sílaba Om que é Brahman, e pensando em mim, alcança a
meta mais sublime. Aquele que sempre pensa em mim com mente sempre
afastada de todos os outros objetos, para aquele devoto sempre empenhado em
meditação, eu sou, ó Partha, de fácil acesso. Pessoas de grande alma que
atingiram a maior perfeição, alcançando a mim, não incorrem no renascimento o
qual é a residência da tristeza e que é transitório. Todos os mundos, ó Arjuna, da
residência de Brahman para baixo tem que passar por um círculo de nascimentos,
(todas estas regiões sendo destrutíveis e sujeitas ao renascimento, aqueles que
vivem lá são igualmente sujeitos à morte e renascimento), ao alcançar a mim, no
entanto, ó filho de Kunti, não há renascimento. Aqueles que sabem que um dia de
Brahman termina depois de mil Yugas, e uma noite (dele) termina depois de mil
Yugas são pessoas que conhecem dia e noite. Na chegada do dia de (Brahman)
tudo o que é manifesto surge do imanifesto; e quando chega (sua) noite, naquele
mesmo que é chamado de imanifesto todas as coisas desaparecem. Aquele
mesmo conjunto de criaturas, surgindo repetidas vezes, se dissolve na chegada
da noite, e surge (novamente), ó filho de Pritha, quando chega o dia, obrigado
(pela força da ação, etc.) (Neste círculo de nascimentos e mortes, as próprias
criaturas não são agentes livres, estando todo o tempo sujeitas à influência do
Karma.) Há, no entanto, outro ente, imanifesto e eterno, o qual está além daquele
imanifesto, e que não é destruído quando todas as entidades são destruídas. Ele é
citado como imanifesto e indestrutível. Eles o chamam de a meta mais alta,
alcançando a qual ninguém tem que voltar. Aquela é minha base Suprema. Aquele
Ser Supremo, ó filho de Pritha, Ele dentro de quem estão todos os entes, e por
quem tudo isso é permeado, é para ser alcançado por reverência não dirigida para
qualquer outro objeto. Eu te direi os momentos, ó touro da raça Bharata, nos quais
devotos partindo (dessa vida) vão, para nunca retornar, ou para retornar. O fogo, a
Luz, o dia, a quinzena iluminada, os seis meses do solstício do norte, partindo
daqui, as pessoas que conhecem Brahma atravessam este caminho para Brahma.
Fumaça, noite, também a quinzena escura (e) os seis meses do solstício do sul,
(partindo) por este caminho, o devoto, alcançando a luz lunar, retorna. O claro e o
escuro, estes dois caminhos são considerados como (os dois caminhos) eternos
64
do universo. Pelo primeiro, (uma pessoa) vai para nunca voltar; pelo outro, uma
pessoa (indo) retorna. Conhecendo estes dois caminhos, ó filho de Pritha, nenhum
devoto é iludido. Portanto, em todos os momentos, seja dotado de devoção, ó
Arjuna. O resultado meritório que é prescrito para o (estudo dos) Vedas, para
sacrifícios, para austeridades ascéticas e para doações, um devoto conhecendo
tudo isso (que foi dito aqui), obtem tudo isto, e (também) alcança a base Suprema
e Primeva.'”
33
"O Santo disse, 'Agora eu direi a ti que és sem inveja aquele conhecimento
mais misterioso junto com prática, conhecendo os quais tu serás livre do mal. Esta
é a ciência real, um mistério real, altamente purificador, diretamente
compreensível, consistente com as leis sagradas, fácil de praticar, (e) imperecível.
Aquelas pessoas, ó castigador de inimigos, que não tem fé nesta doutrina
sagrada, não alcançando a mim, voltam ao caminho deste mundo que está sujeito
à destruição. Este universo inteiro é permeado por mim em minha forma
imanifesta. Todas as entidades estão em mim, mas eu não resido nelas. Nem
também todos os entes estão em mim. Veja meu poder divino. Sustentando todos
os entes e produzindo todos os entes, eu mesmo (contudo) não resido (naqueles)
entes. Como a grande atmosfera sempre ocupa espaço, entenda que todas as
existências residem em mim da mesma maneira. (A atmosfera ocupa espaço sem
afetar a ele ou sua natureza. Assim todas as coisas estão no Ser Supremo sem
afetá-lo.) Todas as entidades, ó filho de Kunti, atingem minha natureza (o princípio
imanifesto ou essência primordial) no fim de um Kalpa. Eu as crio novamente no
início de um Kalpa. Regulando minha própria natureza (independente) eu crio
novamente todo este grupo de existências o qual é maleável por sua sujeição à
natureza, (ao Karma; a influência do Karma ou ação sendo universal em
determinar a forma de uma entidade específica no momento de sua criação.)
Aqueles atos, no entanto, ó Dhananjaya, não restringem a mim que permaneço
como alguém indiferente, sendo independente daquelas ações (de criação).
Através de mim, o supervisor, a natureza primordial produz (o universo dos)
móveis e imóveis. Por essa razão (minha supervisão), ó filho de Kunti, o universo
passa por suas rondas (de nascimento e destruição). Não conhecendo minha
natureza suprema de grande senhor de todas as entidades, pessoas ignorantes
de esperanças inúteis, ações inúteis, conhecimento inútil, mentes confusas,
ligadas à natureza ilusória de Asuras e Rakshasas, me desconsideram como
(alguém) que assumiu um corpo humano. Mas pessoas de grande alma, ó filho de
Pritha, possuidoras de natureza divina, e com mentes dirigidas para nada mais,
me adoram, reconhecendo (a mim) como a origem de todos os entes e
indestrutível. Sempre me glorificando, (ou) se esforçando com votos firmes, (ou)
reverenciando a mim, com veneração e sempre devotados, (eles) me cultuam.
Outros além disso, realizando o sacrifício do conhecimento (crendo que Vasudeva
é tudo), me adoram, (alguns) como único, (alguns) como diverso, (alguns) como
permeando o universo, em muitas formas (como Brahman, Rudra, etc.) Eu sou o
sacrifício Védico, eu sou o sacrifício ordenado nos Smritis, eu sou Swadha, eu o
65
medicamento produzido de ervas; eu sou o mantra (o verso ou versos sagrados
usados para invocar divindades e para outros propósitos), eu sou a libação
sacrifical, eu sou o fogo, e eu sou a oferenda (sacrifical). Eu sou o pai deste
universo, a mãe, o criador, avô; (eu sou) a coisa a ser conhecida, os meios pelos
quais tudo é purificado, a sílaba Om, o Rik, o Saman e o Yajus, (eu sou) a meta, o
sustentador, o senhor, o espectador, a residência, o refúgio, o amigo, a fonte, a
destruição, o suporte, o receptáculo; e a semente indestrutível. Eu dou calor, eu
produzo e suspendo a chuva; eu sou a imortalidade, e também a morte; e eu sou
o existente e o inexistente, ó Arjuna. Aqueles que conhecem os três ramos de
conhecimento, e também bebem o suco Soma, e cujos pecados tem sido
purificados adorando a mim por sacrifícios, procuram admissão no céu; e estes
alcançando a região sagrada do chefe dos deuses desfrutam no céu do prazer
celestial dos deuses. Tendo desfrutado daquele mundo celeste de vasta extensão,
após o esgotamento de seus méritos eles reentram no mundo mortal. É dessa
maneira que aqueles que aceitam as doutrinas dos três Vedas e desejam objetos
de desejos obtem inda e vinda. Aquelas pessoas que, pensando (em mim) sem
dirigir suas mentes para qualquer coisa mais, me adoram, àqueles que são
(assim) sempre devotados (a mim), eu faço presentes e preservo o que eles tem.
Até aqueles devotos que dotados de fé adoram outras divindades, eles mesmos, ó
filho de Kunti, adoram a mim somente, (embora) irregularmente. Eu sou o
desfrutador, como também o senhor, de todos os sacrifícios. Eles, no entanto, não
me conhecem realmente; por isso eles caem (do céu). Aqueles cujos votos são
dirigidos aos Pitris alcançam os Pitris; aqueles que dirigem (seu) culto para os
espíritos inferiores chamados Bhutas alcançam os Bhutas; aqueles que me
adoram, alcançam a mim mesmo. Aqueles que me oferecem com reverência uma
folha, flor, fruta, ou água, esse oferecido com reverência, eu aceito daquele cujo
eu é puro. O que quer que tu faças, o que quer que comas, o que quer que bebas,
o que quer que does, quaisquer austeridades que tu realizes, maneje isto de tal
maneira, ó filho de Kunti, que isto possa ser uma oferenda a mim. Dessa maneira
tu poderás ser libertado dos grilhões da ação que tem resultados bons e maus.
Dotado de renúncia e devoção, tu serás libertado e virás a mim. Eu sou igual para
todas as criaturas; não há ninguém odioso para mim, ninguém caro. Aqueles, no
entanto, que me adoram com reverência estão em mim e eu também estou neles.
Se uma pessoa de conduta extremamente pecaminosa me reverencia, sem
cultuar alguém mais, ela deve certamente ser considerada boa, pois seus esforços
são bem dirigidos. (Tal pessoa) logo vem a ser de alma virtuosa, e obtem
tranquilidade eterna. Saiba, ó filho de Kunti, que alguém devotado a mim jamais é
perdido. Pois, ó filho de Pritha, mesmo aqueles que sejam de nascimento
pecaminoso, mulheres, Vaisyas, e também Sudras, até eles, recorrendo a mim,
alcançam a meta suprema. O que então (eu direi) de Brahmanas pios e santos
que são meus devotos? Tendo vindo a este mundo transitório e miserável, te
dedique ao meu culto. Fixe tua mente em mim; seja meu devoto, meu adorador;
curve-te a mim; e assim me fazendo teu refúgio e aplicando teu eu à abstração, tu
sem dúvida virás a mim.'”
66
34
"O Santo disse, 'Mais uma vez ainda, ó de braços fortes, escute as minhas
palavras divinas as quais, por desejo do (teu) bem, eu digo para ti que ficarás
satisfeito (com elas). As hostes de deuses não conhecem minha origem, nem os
grandes Rishis, já que eu sou, de todas as maneiras (isto é, como criador, como
guia, etc.), a fonte dos deuses e dos grandes Rishis. Aquele que me reconhece
como o Senhor Supremo dos mundos, sem nascimento e início, (ele), não iludido
entre mortais, é livre de todos os pecados. Inteligência, conhecimento, a ausência
de ilusão, perdão, verdade, autodomínio, e tranquilidade, prazer, dor, nascimento,
morte, medo, e também segurança, abstenção de mal, uniformidade de mente,
contentamento, austeridades ascéticas, doações, fama, infâmia, estes vários
atributos das criaturas se originam de mim. Os Sete grandes Rishis, os quatro
Maharishis antes (deles), e os Manus, participando da minha natureza, nasceram
da minha mente, da qual neste mundo estes são produtos. Aquele que conhece
realmente esta preeminência e poder místico meus se torna possuidor de devoção
inabalável. Disto não (há) dúvida. Eu sou a origem de todas as coisas, de mim
todas as coisas procedem. Pensando assim, os sábios, dotados da minha
natureza, me veneram. Seus corações em mim, suas vidas dedicadas a mim,
instruindo uns aos outros, e glorificando a mim eles estão sempre contentes e
felizes. A eles sempre devotados, e reverenciando (a mim) com amor, eu dou
aquela devoção na forma de conhecimento pelo qual eles vem a mim. Deles, por
compaixão, eu destruo a escuridão nascida da ignorância, pela lâmpada brilhante
do conhecimento, (eu mesmo) residindo em suas almas.'
"Arjuna disse, 'Tu és o Brahma Supremo, a Residência Suprema, o mais Santo
dos Santos, o eterno Ser Masculino Divino, o Primeiro dos deuses, Não Nascido, o
Senhor. Todos os Rishis te proclamam dessa maneira, e também o Rishi celeste
Narada; e Asita, Devala, (e) Vyasa; tu mesmo também me falaste (assim). Tudo
isso que tu me disseste, ó Kesava, eu considero verdadeiro já que, ó Santo, nem
os deuses nem os Danavas compreendem tua manifestação. Tu somente
conheces a ti mesmo por ti mesmo, ó Melhor dos Seres Masculinos. Ó Criador de
todas as coisas; ó Senhor de todas as coisas, ó Deus dos deuses, ó Senhor do
Universo, cabe a ti declarar sem qualquer reserva aquelas tuas perfeições divinas
pelas quais tu permaneces permeando estes mundos. Como, sempre meditando,
eu te conhecerei, ó tu de poder místico, em que estados específicos tu podes, ó
Santo, ser meditado por mim? (Conhecer-te completamente é impossível. Em que
formas ou manifestações específicas, portanto, eu devo pensar em ti?) Declare
novamente, ó Janardana, abundantemente teus poderes místicos e (tuas)
perfeições, pois eu nunca estou saciado em ouvir tuas palavras como néctar."
"O Santo disse, 'Bem, para ti eu declararei minhas perfeições divinas, por meio
das principais (entre elas), ó chefe dos Kurus, pois não há fim para a extensão das
minhas (perfeições). Eu sou a alma, ó tu de cabelo ondulado, situada no coração
de todos os seres, eu sou o início, e o meio, e também o fim de todos os seres. Eu
sou Vishnu entre os Adityas (divindades solares, doze em número,
correspondentes aos doze meses do ano), o Sol resplandecente entre todos os
67
corpos luminosos; eu sou Marichi entre os Maruts (deuses do vento, cujo chefe é
Marichi), e a Lua entre constelações. Eu sou o Sama Veda entre os Vedas; eu sou
Vasava entre os deuses; eu sou a mente entre os sentidos; eu sou o intelecto nos
seres (viventes). Eu sou Sankara entre os Rudras (uma classe de deuses
destrutivos, onze em número), o Senhor dos tesouros (Kuvera) entre os Yakshas e
os Rakshasas; eu sou Pavaka entre os Vasus (uma classe inferior de divindades,
oito em número), e Meru entre as (montanhas) de picos. Conheça-me, ó filho de
Pritha, como Vrihaspati, o chefe dos sacerdotes familiares. Eu sou Skanda entre
os comandantes de exércitos. Eu sou o Oceano entre os receptáculos de água. Eu
sou Bhrigu entre os grandes Rishis, eu sou a Única, indestrutível (sílaba Om) entre
as palavras. Dos sacrifícios eu sou o sacrifício Japa (sacrifício por meditação o
qual é superior a todos os sacrifícios). Dos imóveis eu sou o Himavat. Eu sou a
figueira entre todas as árvores, eu sou Narada entre os Rishis celestes. Eu sou
Chitraratha entre os Gandharvas e o asceta Kapila entre os ascetas coroados com
êxito em Yoga. Saiba que eu sou Uchchaisravas entre os cavalos, gerado pelo
(batimento por) néctar, Airavata entre os elefantes principescos, e o rei entre os
homens. Entre as armas eu sou o raio, entre as vacas eu sou (aquela chamada)
Kamadhuk (a vaca realizadora de desejos chamada Surabhi). Eu sou Kandarpa a
causa da reprodução (isto é, eu não sou a mera paixão carnal, mas aquela paixão
que procria ou é coroada com fruto), eu sou Vasuki entre as serpentes. Eu sou
Ananta entre os Nagas, eu sou Varuna entre seres aquáticos, eu sou Aryaman
entre os Pitris, e Yama entre aqueles que julgam e punem. Eu sou Prahlada entre
os Daityas, e Tempo entre as coisas que contam. Eu sou o leão entre os animais,
e o filho de Vinata entre as criaturas aladas. Dos purificadores eu sou o vento. Eu
sou Rama (o filho de Dasaratha) entre os manejadores de armas. Eu sou o
Makara entre os peixes, e eu sou Jahnavi (Ganga) entre os rios. (Ganga é
chamada de Jahnavi porque ela foi, depois de ter sido esvaziada, libertada pelo
asceta Jahnu através de seu joelho.) Das coisas criadas eu sou o início e o fim e
também o meio, ó Arjuna. Eu sou o conhecimento do Espírito Supremo entre
todos os tipos de conhecimento, e a disputa entre os disputadores. Entre todas as
letras eu a letra A, e (o composto chamado) Dwanda entre todos os compostos.
Eu sou também o Tempo Eterno, e eu sou o Ordenador com face virada para
todos os lados. Eu sou a Morte que apanha todos, e a fonte de tudo o que existirá.
Entre as mulheres, eu sou a Fama, Fortuna, Palavra, Memória, Inteligência,
Constância, Perdão. Dos hinos Sama, eu sou o Vrihat-sama (o melhor, porque ele
leva à emancipação imediatamente) e Gayatri entre as métricas. Dos meses, eu
sou Margasirsha (o mês do meio de Fevereiro ao meio de Março), das estações
(eu sou) aquela que é produtiva de flores (primavera). Eu sou o jogo de dados
daqueles que trapaceiam, e o esplendor daqueles que são esplêndidos. Eu sou
Vitória, eu sou Esforço, eu sou a bondade dos bons. Eu sou Vasudeva entre os
Vrishnis, eu sou Dhananjaya entre os filhos de Pandu. Eu sou o próprio Vyasa
entre os ascetas, e Usanas entre os videntes. Eu sou a Vara daqueles que
castigam, eu sou a Política daqueles que procuram vitória. Eu sou silêncio entre
aqueles que são secretos. Eu sou o Conhecimento daqueles que são possuidores
de Conhecimento. Aquilo que é a Semente de todas as coisas, eu sou aquilo, ó
Arjuna. Não há nada móvel ou imóvel que possa existir sem mim. Não há fim, ó
castigador de inimigos, das minhas perfeições divinas. Esta narração da extensão
68
(daquelas) perfeições foi proferida por mim (somente) a fim de exemplificá-las.
Quaisquer coisas sublimes ou gloriosas (que há), ou fortes, entenda que tudo é
nascido de uma porção da minha energia. Ou melhor, o que tu tens a fazer, por
conhecer tudo isso em detalhes, ó Arjuna? Eu permaneço sustentando este
universo inteiro somente com uma fração (de mim mesmo),"
35
"Arjuna disse, 'Este discurso acerca do mistério supremo, chamado Adhyatman
(a relação entre a Alma Suprema e a alma individual), o qual tu proferiste para
meu bem-estar, dissipou minha ilusão. Pois eu ouvi detalhadamente de ti sobre a
criação e dissolução dos seres, ó tu de olhos como pétalas de lótus, e também da
tua grandeza que não conhece deterioração. O que ti disseste sobre ti mesmo, ó
Senhor grandioso, é assim mesmo. Ó melhor dos Seres Masculinos, eu desejo
contemplar tua forma soberana. Se, ó Senhor, tu achas que eu sou qualificado
para contemplar (aquela forma), então, ó Senhor de poder místico, mostre-me teu
Eu eterno.'
"O Santo disse, 'Veja, ó filho de Pritha, minhas formas às centenas e milhares,
várias, divinas, diversas em cor e forma. Veja os Adityas, os Vasus, os Rudras, os
Aswins, e os Maruts. Veja, ó Bharata, inúmeras maravilhas não vistas antes (por
ti). Contemple, ó tu de cabelo ondulado, o universo inteiro de móveis e imóveis
reunido neste meu corpo, (e) qualquer coisa mais que tu desejes ver. Tu, no
entanto, não estás apto para me contemplar com esta tua visão. Eu te dou visão
divina. Veja minha natureza mística soberana.'"
Sanjaya continuou, "Dizendo isso, ó monarca, Hari, o poderoso Senhor de
poder místico, então revelou para o filho de Pritha sua Suprema forma soberana,
com muitas bocas e olhos, muitos aspectos magníficos, muitos ornamentos
celestes, muitas armas celestes erguidas, usando guirlandas e mantos celestes,
(e) com unguentos de fragrância celeste, cheia de todas as maravilhas,
resplandecente, infinita, com faces viradas para todos os lados. Se o esplendor de
mil sóis irrompesse ao mesmo tempo no céu, (então) ele seria semelhante ao
esplendor daquele Poderoso. O filho de Pandu então viu lá no corpo daquele Deus
dos deuses o universo inteiro dividido e sub-dividido em muitas partes, todas
juntas. Então Dhananjaya, cheio de assombro, (e) com cabelo arrepiado,
reverenciando com (sua) cabeça, com mãos unidas dirigiu-se ao Deus.’
"Arjuna disse, 'Eu vejo todos os deuses, ó Deus, como também as variadas
hostes de criaturas, (e) Brahman sentado em (seu) assento de lótus, e todos os
Rishis e as cobras celestes. Eu Te vejo com inúmeros braços, estômagos, bocas,
(e) olhos, por toda parte, ó tu de formas infinitas. Nem fim nem meio, nem também
teu começo eu vejo, ó Senhor do universo, ó tu de forma universal. Portando (teu)
diadema, maça, e disco, uma massa de energia, brilhando intensamente por todos
os lados, eu vejo a ti que és difícil de se olhar, dotado em todos os lados da
refulgência do fogo ardente ou do Sol, (e) incomensurável. Tu és indestrutível, (e)
69
o Supremo objeto deste universo. Tu és sem decadência, o protetor da eterna
virtude. Eu te considero como o eterno Ser (masculino). Eu vejo que tu és sem
início, meio, fim, de destreza infinita, de inúmeros braços, tendo o Sol e a Lua
como teus olhos, o fogo ardente como tua boca, e aquecendo este universo com
tua própria energia. Pois o espaço entre céu e terra é permeado por Ti somente,
como também os pontos do horizonte. À visão desta tua forma maravilhosa e
aterradora, ó Alma Suprema, o mundo triplo treme. Pois estas hostes de deuses
são entrando em ti. Alguns, atemorizados, estão rezando com mãos unidas.
Dizendo ‘Saudações a Ti’, as hostes de grandes Rishis e Siddhas Te louvam com
hinos copiosos de louvor. Os Rudras, os Adityas, os Vasus, aqueles (chamados)
Siddhas, os Viswas, os Aswins, os Maruts, também os Ushmapas, os
Gandharvas, os Yakshas, os Asuras, as hostes de Siddhyas, Te contemplam e
estão todos assombrados. Vendo Tua forma imensa com muitas bocas e olhos, ó
poderosamente armado, com inúmeros braços, coxas e pés, muitos estômagos,
(e) terrível por causa de muitas presas, todas as criaturas estão assustadas e eu
também. De fato, tocando os próprios céus, de brilho resplandecente, de muitas
cores, boca escancarada, com olhos que são brilhantes e grandes, contemplando
a ti, ó Vishnu, com (minha) alma interna tremendo (apavorada), eu não posso mais
dispor de coragem e paz mental. Vendo tuas bocas que são terríveis por causa de
(suas) presas, e que são ameaçadoras (como o fogo todo-destrutivo no fim do
Yuga), eu não posso reconhecer os pontos do horizonte nem posso dispor de paz
mental. Sejas benevolente, ó Deus de deuses, ó tu que és o refúgio do Universo.
E todos estes filhos de Dhritarashtra, junto com as hostes de reis, e Bhishma, e
Drona, e também este filho de Suta (Karna), acompanhados até pelos principais
guerreiros do nosso lado, estão entrando rapidamente nas tuas bocas terríveis
tornadas ferozes por tuas presas. Alguns, com suas cabeças esmagadas, são
vistos batendo nas frestas dos (teus) dentes. Como muitas correntes de água
fluindo por diferentes canais rolam rapidamente em direção ao oceano, assim
estes heróis do mundo dos homens entram nas tuas bocas que flamejam por toda
parte. Como mariposas com velocidade crescente se precipitam para (sua própria)
destruição para o fogo ardente, assim também (estas) pessoas, com velocidade
ininterrupta, entram nas tuas bocas para (sua) destruição. Engolindo todos estes
homens de todos os lados, tu os lambes com tuas bocas flamejantes. Enchendo
todo o universo com (tua) energia, teus esplendores ardentes, ó Vishnu, estão
aquecendo (tudo). Diga-me quem és tu de (tal) forma feroz. Eu me curvo a ti, ó
principal dos deuses, sejas benévolo para mim. Eu desejo conhecer a ti que és o
Primevo, eu não compreendo tua ação.'
O Santo disse, "Eu sou a Morte, o destruidor dos mundos, totalmente revelado.
Eu estou agora empenhado em matar a raça de homens. Sem ti todos estes
guerreiros permanecendo nas diferentes divisões cessarão de existir; (isto é,
mesmo que tu não lutes, todos perecerão.) Por isso levante, ganhe renome, (e)
subjugando o inimigo, desfrute (deste) reino próspero. Por mim todos estes já
foram mortos. Seja somente (meu) instrumento. Ó tu que podes estirar o arco (até)
com a mão esquerda. Drona e Bhishma, e Jayadratha, e Karna, e também outros
guerreiros heróicos, (já) mortos por mim, mate. Não fique consternado, lute; tu
vencerás (teus) inimigos em batalha."
70
Sanjaya continuou, "Ouvindo estas palavras de Kesava, o enfeitado com
diadema (Arjuna), tremendo, (e) com mãos unidas, curvou-se (a ele); e mais uma
vez falou a Krishna, com voz sufocada e dominado pelo medo, e fazendo suas
saudações (a ele).’
Arjuna disse, "É apropriado, Hrishikesa, que o universo se deleite e se encante
em proferir teus louvores, e os Rakshasas fujam com medo em todas as direções,
e as hostes dos Siddhas reverenciem (a ti). E por que eles não deveriam te
reverenciar, ó Alma Suprema, que és maior até do que (o próprio) Brahman, e a
causa primordial? Ó tu que és Infinito, ó Deus dos deuses, ó tu que és o refúgio do
universo, tu és indestrutível, tu és aquilo que é, e aquilo que não é, e aquilo que
está além de (ambos). Tu és o Primeiro Deus, o antigo Ser (Masculino), tu és o
amparo Supremo deste universo. Tu és o Conhecedor, tu és o Objeto a ser
conhecido, tu és a residência mais elevada. Por ti é permeado este universo, ó tu
de forma infinita. Tu és Vayu, Yama, Agni, Varuna, Lua, Prajapati, e Avô.
Homenagens sejam para ti mil vezes, e mais e mais reverências a ti. Reverências
para ti em frente, e também atrás. Que reverências sejam para ti de todos os
lados, ó tu que és tudo. Tu és tudo, de energia que é infinita, e destreza que é
incomensurável. Tu abarcas o Todo. Considerando (a ti) um amigo, qualquer coisa
que tenha sido dita por mim descuidadamente, tal como: ‘Ó Krishna, ó Yadava, ó
amigo,’ não conhecendo esta tua grandeza por falta de bom senso ou por amor,
qualquer desrespeito que tenha sido mostrado a ti para propósito de hilaridade,
em ocasiões de jogo, deitado, sentado, (ou) em refeições, enquanto sós ou na
presença de outros, ó imperecível, eu rogo teu perdão por isto, que és
incomensurável. Tu és o pai deste universo de móveis e imóveis. Tu és o grande
mestre digno de culto. Não há ninguém igual a ti, como poderia haver alguém
maior, ó tu cujo poder é sem paralelo mesmo nos três mundos? Portanto
reverenciando (a ti) prostrando (meu) corpo, eu peço tua benevolência, ó Senhor,
ó adorável. Cabe a ti, ó Deus, tolerar (minhas falhas) como um pai as de (seu)
filho, um amigo as de (seu) amigo, um amante as de (seu) amado. Contemplando
(tua) forma (não vista) antes, eu tenho estado alegre, (contudo) minha mente está
perturbada pelo temor. Mostre-me aquela (outra) forma (habitual), ó Deus. Seja
bondoso, ó Senhor dos deuses, ó tu que és o amparo do universo. (Enfeitado) em
diadema, e (armado) com maça, disco na mão, como antes, eu desejo te ver. Seja
daquela mesma forma de quatro braços, ó tu de mil braços, tu de forma universal."
"O Santo disse, 'Satisfeito contigo, ó Arjuna, eu tenho, por meu (próprio) poder
místico, te mostrado esta forma suprema, cheia de glória, Universal, Infinita,
Primeva, a qual não foi vista antes por ninguém salvo tu. Exceto por ti somente,
herói da família de Kuru, eu não posso ser visto nesta forma no mundo dos
homens por ninguém mais, mesmo (ajudado) pelo estudo dos Vedas e de
sacrifícios, por presentes, por ações, (ou) pelas austeridades mais severas. Que
nenhum receio seja teu, nem perplexidade de mente ao vires esta minha forma
terrível. Livre do medo com o coração alegre, veja-me novamente assumindo
aquela outra forma.'"
71
Sanjaya continuou, "Vasudeva, tendo dito tudo isto para Arjuna, mais uma vez
mostrou (a ele) sua própria forma (habitual), e aquele de grande alma, assumindo
mais uma vez (sua) forma amável, confortou a ele que estava aflito."
"Arjuna disse, 'Vendo essa tua bondosa forma humana, ó Janardana, eu agora
fiquei com mente sã e voltei ao meu estado normal.'
"O Santo disse, 'Esta minha forma que tu viste é difícil de ser vista. Até os
deuses estão sempre desejosos de se tornar observadores desta (minha) forma.
Nem pelos Vedas, nem por austeridades, nem por doações, nem por sacrifícios eu
posso ser visto nesta minha forma que tu viste. Por reverência, no entanto, que é
exclusiva (em seu objeto), ó Arjuna, eu posso ser conhecido nesta forma, visto
realmente, e alcançado, ó castigador de inimigos. Aquele que faz tudo para mim,
que tem a mim como seu objetivo supremo, que é livre de apego, que é sem
inimizade em direção a todos os seres, ele mesmo, ó Arjuna, vem a mim.'”
36
"Arjuna disse, 'Daqueles devotos que, constantemente dedicados, te adoram, e
aqueles que (meditam) em ti como o Imutável e Imanifesto, quem é mais bem
familiarizado com devoção?'
"O Santo disse, 'Fixando (sua) mente em mim, aqueles que constantemente me
adoram, sendo dotados (além disso) da fé mais elevada, são considerados por
mim como os mais devotados. Aqueles, no entanto, que veneram o Imutável, o
Imanifesto, o que permeia a tudo, o Inconcebível, o Indiferente, o Imutável, o
Eterno, que, reprimindo o grupo inteiro dos sentidos, são de mente igual em
relação a tudo em volta e estão dedicados ao bem de todas as criaturas, (também)
alcançam a mim. A dificuldade é maior para aqueles cujas mentes são fixadas no
Imanifesto; pois o caminho para o Imanifesto é difícil de ser encontrado por
aqueles que estão incorporados. Aqueles (também) que, pondo toda ação em mim
(e) me considerando como seu objeto mais alto (de conhecimento), me adoram,
meditando em mim com devoção não dirigida a qualquer coisa mais, deles cujas
mentes estão (assim) fixadas em mim, eu, sem demora, me torno o libertador do
oceano (deste) mundo mortal. Fixe teu coração em mim somente, coloque tua
mente em mim, após a morte então tu residirás em mim. Não (há) dúvida (nisto).
Se no entanto, tu és incapaz de fixar teu coração firmemente em mim, então, ó
Dhananjaya, esforce-te para me alcançar por devoção (resultante) de aplicação
contínua. Se tu fores inadequado até para (esta) aplicação contínua, então que
ações realizadas por mim sejam teu maior alvo. Realizando todas as tuas ações
por minha causa, tu obterás perfeição. Se mesmo isto tu fores incapaz de fazer,
então recorrendo à devoção em mim, (e) subjugando tua alma, abandone o fruto
de todas as ações. Conhecimento é superior à aplicação (em devoção); meditação
é melhor do que conhecimento; o abandono do fruto da reação (é melhor) do que
meditação, e tranquilidade (resulta) imediatamente do abandono. Aquele que não
tem ódio por qualquer criatura, que é amistoso e compassivo também, que é livre
72
de egoísmo, que não tem vaidade, apego, que é igual em prazer e dor, que é
perdoador, contente, sempre devotado, de alma subjugada, de propósito firme,
com coração e mente fixos em mim, ele mesmo é amado por mim. Aquele por
quem o mundo não é incomodado, (e) que não é incomodado pelo mundo, que é
livre de alegria, ira, medo e ansiedades, ele mesmo é amado por mim. Aquele
meu devoto que é tranquilo, puro, diligente, não ligado (com objetos mundanos), e
livre de angústia (mental), e que renuncia toda ação (por resultado), ele mesmo é
amado por mim. Ele que não tem alegria, nem aversão, que nem se aflige nem
deseja, que renuncia ao bem e ao mal, (e) que é cheio de fé em mim, ele mesmo
é amado por mim. Ele que é igual para com amigo e inimigo, como também em
honra e desonra, que é igual em frio e calor, (e prazer e dor), que é livre de apego,
para quem crítica e elogio são iguais, que é taciturno, que está satisfeito com
qualquer coisa que aconteça (a ele), que é sem lar, de mente imperturbável e
cheia de fé, este homem é amado por mim. Aqueles que recorrem a esta equidade
(que leva à) imortalidade a qual (já) foi declarada, aqueles devotos cheios de fé e
que me consideram como o objeto mais elevado (de sua obtenção) são os mais
queridos para mim.'”
37
"O Santo disse, 'Este corpo, ó filho de Kunti, é chamado de Kshetra. Aquele que
o conhece, os eruditos chamam de Kshetrajna. Conheça-me, ó Bharata, como
Kshetras. O conhecimento de Kshetra e Kshetrajna eu considero como
(verdadeiro) conhecimento. O que aquele Kshetra (é), e ao que (ele é) similar, e
que mudanças ele sofre, e de onde (ele vem), o que é ele (o Kshetrajna), e quais
são seus poderes, ouça de mim em poucas palavras. Tudo isto tem sido cantado
separadamente de muitas maneiras por Rishis em vários versos, em textos bem
assentados repletos de bom senso e dando indicações de Brahman. Os grandes
elementos, egoísmo, intelecto, o imanifesto (isto é, Prakriti), também os dez
sentidos, o único (manas), os cinco objetos dos sentidos, desejo, aversão, prazer,
dor, consciência do corpo, coragem, tudo isso em resumo é declarado como
Kshetra em sua forma modificada. Ausência de vaidade, ausência de ostentação,
abstenção de ferir, perdão, retidão, devoção ao preceptor, pureza, constância,
autodomínio, indiferença pelos objetos dos sentidos, ausência de egoísmo,
percepção da miséria e mal de nascimento, morte, velhice e doença, liberdade de
apego, ausência de afinidade por filho, esposa, casa, e o resto, e constante
equanimidade de coração na obtenção de bem e mal, devoção inabalável a mim
sem meditação em qualquer coisa mais, frequentação de lugares solitários,
aversão por multidão de homens, constância no conhecimento da relação do ser
individual com o supremo, percepção do objetivo do conhecimento da verdade
(que é a dissipação da ignorância e a aquisição de felicidade), tudo isso é
chamado de Conhecimento; tudo aquilo que é contrário a isto é Ignorância. Aquilo
que é o objeto de conhecimento eu (agora) declararei (para ti), conhecendo o qual
uma pessoa obtém imortalidade. [Ele é] o Brahma Supremo que não tem início,
que é citado como não sendo nem existente nem inexistente; cujas mãos e pés
estão em toda parte, cujos olhos, cabeças e rostos estão em toda parte, que vive
73
permeando tudo no mundo, que é possuidor de todas as qualidades dos sentidos
(embora) desprovido de sentidos, sem ligação (contudo) sustentando todas as
coisas, sem atributos (porém) desfrutando de todos os atributos; (não tendo olhos,
etc., porém vendo, etc., sem atributos, contudo tendo ou desfrutando de tudo o
que os atributos dão); fora e dentro de todas as criaturas, imóvel e móvel, não
conhecível por causa de (sua) sutileza, distante porém perto, não distribuído em
todos os seres, (contudo) permanecendo como se distribuído, que é o sustentador
de (todos os) seres, o que absorve e cria (tudo); que é a luz de todos os corpos
luminosos, que é citado como estando além de toda escuridão; que é
conhecimento, o Objeto de conhecimento, o Fim do conhecimento e situado nos
corações de todos. Assim Kshetra, e Conhecimento, e o Objeto de Conhecimento,
foram declarados (para ti) em resumo. Meu devoto, sabendo (tudo) isso, se torna
uno em espírito comigo. Saiba que Natureza (Prakriti, a matéria primordial) e
Espírito (Purusha, o princípio ativo) são ambos sem início (e) saiba (também) que
todas as modificações e todas as qualidades provem da Natureza. A Natureza é
citada como a fonte da capacidade de desfrutar de prazeres e dores. Pois o
Espírito, residindo na natureza desfruta das qualidades nascidas da Natureza. A
causa de seus nascimentos em úteros bons e maus é (sua) conexão com as
qualidades. (É o espírito incorporado somente que pode desfrutar das qualidades
da Natureza. Então, o tipo de conexão que ele tem com aquelas qualidades
determina seu nascimento em bons e maus úteros.) O Purusha Supremo neste
corpo é citado como o avaliador, aprovador, sustentador, desfrutador, o senhor
poderoso, e também a Alma Suprema. Aquele que conhece dessa maneira
Espírito, e Natureza, com as qualidades, em qualquer estado que ele possa estar,
nunca nasce novamente. Alguns por meditação contemplam o eu no eu por meio
do eu; outros por devoção segundo o sistema Sankhya; e outros (também), por
devoção através de trabalhos. Outros ainda não conhecendo isto, veneram,
ouvindo sobre isto de outros. Mesmo estes, devotados ao que é ouvido (os Srutis
ou as doutrinas sagradas), vencem a morte. Qualquer ente, imóvel ou móvel, que
nasce, saiba que, ó touro da raça Bharata, é proveniente da conexão de Kshetra e
Kshetrajna (matéria e espírito). Aquele que vê o Senhor Supremo morando
igualmente em todos os seres, (vê) o Imperecível no Perecível. Pois vendo o
Senhor residindo igualmente em todos os lugares, uma pessoa não destrói a si
mesma por si mesma (não é privada do verdadeiro conhecimento), e então
alcança a meta mais elevada. Vê (realmente) quem vê que todas as ações são
feitas pela natureza somente de todas as maneiras e igualmente que o eu não é o
fazedor. Quando alguém vê a diversidade de entidades como existindo em uma, e
a emissão (de tudo) daquela (Uma), então ele é citado como tendo alcançado
Brahma. Este Ser Supremo inexaurível, ó filho de Kunti, sendo sem início e sem
atributos, não age, nem é maculado mesmo quando colocado no corpo. Como o
espaço, que é onipresente, nunca é manchado, por sua sutileza, assim a alma,
posicionada em todo corpo, nunca é maculada. Como o único Sol ilumina o mundo
inteiro, assim o Espírito, ó Bharata, ilumina toda (a esfera das) matérias. Aqueles
que, pela visão do conhecimento, conhecem a diferença entre matéria e espírito, e
a libertação da natureza de todas as entidades, alcançam o Supremo.”
74
38
"O Santo disse, 'Eu declararei (para ti) novamente aquela sublime ciência das
ciências, aquela ciência excelente, conhecendo a qual todos os munis tem
alcançado a maior perfeição dos (grilhões) deste corpo. Valendo-se desta ciência,
e atingindo a minha natureza, eles não renascem nem na (ocasião de) uma (nova)
criação e não são perturbados na dissolução universal. O poderoso Brahma é um
útero para mim. Lá eu coloco o embrião (vivente). Dali, ó Bharata, o nascimento
de todos os seres se realiza. Quaisquer formas (corpóreas), ó filho de Kunti, que
são nascidas em todos os úteros, delas Brahma é o útero imenso, (e) eu o Pai que
dá a semente. Bondade, paixão, escuridão (ignorância), estas qualidades,
nascidas da natureza, amarram, ó tu de braços fortes, a eterna [alma] incorporada
no corpo. Entre estas, a Bondade, de sua natureza pura, sendo iluminadora e livre
de miséria, ata (a Alma), ó impecável, com a obtenção de felicidade e de
conhecimento. (Felicidade e conhecimento são atributos da mente, não da alma.
Por isso, quando ligados à alma, eles são como grilhões dos quais a alma deve
ser libertada.) Saiba que a paixão, tendo desejo como sua essência, nasce da
ânsia e apego. Ela, ó filho de Kunti, ata a (alma) incorporada pelo apego à
atividade. Escuridão, no entanto, saiba, é nascida da ignorância, (e) desnorteia
toda [alma] incorporada. Ela vincula, ó Bharata, por erro, indolência, e torpor.
Bondade une (a alma) com prazer; Paixão, ó Bharata, une com trabalho; mas a
Ignorância, velando o conhecimento, une com erro. Paixão e ignorância, sendo
reprimidas, permanece a Bondade, ó Bharata. Paixão e bondade (sendo
reprimidas), (resta) ignorância; (e) ignorância e bondade (sendo reprimidas),
(resta) a paixão. Quando neste corpo, em todos os seus portões, a luz do
conhecimento é produzida, então se sabe que a bondade tem sido desenvolvida
lá. Avareza, atividade, realização de trabalhos, falta de tranquilidade, desejo,
estes, ó touro da raça Bharata, nascem quando a paixão está desenvolvida.
Ignorância, inatividade, erro, e também ilusão, ó filho da família de Kuru, nascem
quando a ignorância está desenvolvida. Quando o portador de um corpo vai para a
dissolução enquanto a bondade está desenvolvida, então ele alcança as regiões
imaculadas daqueles que conhecem o Supremo. Indo para a dissolução quando a
paixão prevalece, uma pessoa nasce entre aqueles que são vinculados à
atividade. Igualmente, dissolvida durante ignorância, uma pessoa nasce em úteros
que geram os ignorantes. O resultado de boa ação é citado como bom e
imaculado. O resultado, no entanto, da paixão, é tristeza; (e) o fruto da Escuridão
é ignorância. Da bondade é produzido o conhecimento; da paixão, avareza; (e) da
escuridão são erro e ilusão, e também ignorância. Aqueles que vivem em bondade
vão para o alto; aqueles que são afeitos à paixão vivem no meio; (enquanto)
aqueles que são da escuridão, sendo afeitos à qualidade mais baixa, descem.
Quando um observador reconhece que ninguém mais é um agente exceto as
qualidades, e conhece aquilo que está além (das qualidades), ele atinge minha
natureza. A [alma] incorporada, por transcender estas três qualidades que
constituem a fonte de todos os corpos, desfruta da imortalidade, sendo livre de
nascimento, morte, velhice, e miséria.'
75
"Arjuna disse, 'Quais são as indicações, ó Senhor, de alguém que transcendeu
estas três qualidades? Qual é sua conduta? Como também alguém transcende
estas três qualidades?"
"O Santo disse, 'Aquele que não tem aversão por conhecimento, atividade, e
mesmo ilusão (que são as três qualidades como indicadas por seus efeitos), ó
filho de Pandu, quando eles estão presentes, nem os deseja quando eles estão
ausentes, que, assentado como alguém indiferente, não é agitado por aquelas
qualidades; que está em posição fixa e não se altera, pensando que são as
qualidades (e não ele) que estão engajadas (em suas respectivas funções); para
quem prazer e dor são iguais, que é independente, e para quem um torrão de
terra, uma pedra, e ouro são iguais; para quem o agradável e o desagradável são
o mesmo; que tem discernimento; para quem crítica e elogio são o mesmo; para
quem honra e desonra são o mesmo; que considera amigo e inimigo igualmente;
que renunciou a todo esforço, é citado como tendo transcendido as qualidades.
Aquele também que venera a Mim com devoção exclusiva, ele, transcendendo
aquelas qualidades, se torna apto para admissão na natureza de Brahma. Pois eu
sou o esteio de Brahma, da imortalidade, da indestrutibilidade, da piedade eterna,
e da bem aventurança ininterrupta.'”
39
"O Santo disse, 'Eles dizem que a Aswattha, tendo suas raízes acima e ramos
abaixo, é eterna, sua folhas são os Chhandas. Aquele que a conhece, conhece os
Vedas. (A 'Aswattha' é a sagrada figueira indiana, aqui emblemática do curso de
vida mundana. Suas raízes estão acima; aquelas raízes são o Ser Supremo. Seus
ramos estão abaixo, estes sendo as divindades inferiores. Suas folhas são os
hinos sagrados dos Vedas, isto é, as folhas mantém a árvore viva e conduzem aos
seus frutos, assim os Vedas sustentam esta árvore e levam à salvação.) Para
baixo e para cima (das mais elevadas às mais baixas das coisas criadas) estão
esticados seus ramos os quais são aumentados pelas qualidades (as qualidades
aparecendo como o corpo, os sentidos, etc.); seus brotos são os objetos dos
sentidos, (sendo ligados aos próprios sentidos como brotos aos ramos.) Para
baixo suas raízes (os desejos por diversos prazeres), que levam à ação, estão
estendidas para este mundo de homens. Sua forma não pode aqui (na terra) ser
assim conhecida, nem (seu) fim, nem (seu) início, nem (seu) suporte. Cortando,
com a arma firme do desinteresse, esta Aswattha de raízes firmemente fixadas,
uma pessoa deve então procurar por aquele local se dirigindo ao qual não se
retorna outra vez (pensando): ‘Eu procurarei a proteção daquele Senhor Primevo
de quem o antigo curso de vida (mundana) fluiu.’ Aqueles que são livres de
orgulho e ilusão, que subjugaram o mal do apego, que são firmes na
contemplação da relação do Supremo com o ser individual, de quem o desejo se
apartou, livre dos pares de opostos conhecidos pelos nomes de prazer e dor (e
semelhantes), se dirigem, sem ilusão, àquela base eterna. O sol não ilumina
aquela [base], nem a lua, nem o fogo. Indo para lá ninguém retorna, aquela é
minha base suprema. Uma porção eterna de Mim é aquela que, se tornando uma
76
alma individual no mundo de vida, atrai para si mesma os (cinco) sentidos com a
mente como o sexto os quais dependem todos da natureza. Quando o soberano
(desta moldura corpórea) assume ou abandona (um) corpo, ele parte levando
embora estes, como o vento (levando) perfumes de seus assentos. Presidindo
sobre o ouvido, o olho, (os órgãos de) tato, paladar e olfato, e também sobre a
mente, ele desfruta de todos os objetos dos sentidos. Aqueles que estão iludidos
não vêem (a ele) quando abandonando ou habitando (o corpo), quando
desfrutando ou unidos às qualidades (isto é, quando percebendo objetos dos
sentidos ou sentindo prazer e dor). Aqueles (no entanto) que tem a visão do
conhecimento o vêem. Devotos se esforçando (em direção àquele fim) o vêem
residindo neles mesmos. Aqueles (no entanto) que são insensatos e cujas mentes
não são controladas, não o vêem, mesmo enquanto (eles mesmos) se esforçando.
Aquele esplendor residindo no sol o qual ilumina o universo vasto, aquele (que se
encontra) na lua, e aquele (que se encontra) no fogo, saiba que aquele esplendor
é meu. Entrando na terra eu sustenho as criaturas por minha força; e me tornando
a lua suculenta (Soma) eu nutro todas as ervas. Eu mesmo me tornando o calor
vital (Vaiswanara) residindo nos corpos das criaturas que respiram, (e) me unindo
com os ares vitais ascendentes e descendentes, eu digiro os quatro tipos de
alimento, (que são aquele que é mastigado, aquele que é sugado, aquele que é
lambido, e aquele que é bebido.) Eu estou situado nos corações de todos.
Provenientes de Mim são memória e conhecimento e a perda de ambos. Eu sou
os objetos de conhecimento a serem conhecidos por meio (da ajuda de) todos os
Vedas. Eu sou o autor dos Vedantas, e somente Eu sou o conhecedor dos Vedas.
Há estas duas existências no mundo, isto é, a mutável e a imutável. A mutável é
todas (estas) criaturas. A permanente é chamada de imutável. Mas há outra, o Ser
Supremo, chamado Paramatman, que é o Senhor Eterno, que permeia os três
mundos, os sustém (e) já que eu transcendo o mutável, e estou acima até do
imutável; por isso eu sou celebrado no mundo (entre os homens) e no Veda como
Purushottama (o Ser mais Elevado). Aquele que, sem ser iludido, me conhece
como este Ser mais elevado, ele sabendo tudo, ó Bharata, me adora de todas as
maneiras. Assim, ó impecável, este conhecimento, formando o maior dos
mistérios, foi declarado por Mim (para ti). Conhecendo isto, ó Bharata, uma
pessoa se tornará dotada de inteligência, e terá feito tudo o que ela precisa fazer.'”
40
"O Santo disse, 'Destemor, pureza de coração, perseverança na (busca de)
conhecimento e meditação Yoga, doações, autodomínio, sacrifício, estudo dos
Vedas, penitências ascéticas, retidão, abstenção de ferir, veracidade, abstenção
de raiva, renúncia, tranquilidade, abstenção de relatar as imperfeições de outros,
compaixão por todas as criaturas, ausência de cobiça, bondade, modéstia,
ausência de inquietação, energia, perdão, firmeza, limpeza, ausência de vontade
de disputar ou discutir, ausência de vaidade, estes se tornam daquele, ó Bharata,
que é nascido para posses divinas. Hipocrisia, orgulho, presunção, cólera, rudeza
e ignorância, são, ó filho de Pritha, dele que é nascido para posses demoníacas.
77
Posses divinas são consideradas para libertação; as demoníacas para escravidão.
Não te aflijas, ó filho de Pandu, pois tu és nascido para posses divinas. (Há) dois
tipos de seres criados neste mundo, isto é, os divinos e os demoníacos. O divinos
foram descritos detalhadamente. Ouça agora, de mim, ó filho de Pritha, acerca
dos demoníacos. Pessoas de natureza demoníaca não conhecem inclinação (para
ações corretas) nem aversão (por todas as ações injustas). Nem pureza, nem boa
conduta, nem veracidade existem neles. Eles dizem que o universo é desprovido
de verdade, de princípio guia, (e) de soberano; produzido pela união de um com o
outro (macho e fêmea) por luxúria, e nada mais. Sujeitos a esse ponto de vista,
estes homens perdidos, de pouca inteligência, e feitos violentos, estes inimigos
(do mundo), nascem para a destruição do universo. Nutrindo desejos que são
insaciáveis, e dotados de hipocrisia, presunção e tolice, eles adotam falsas noções
por ilusão e se engajam em práticas profanas. Nutrindo pensamentos ilimitados
limitados (somente) pela morte, e considerando o desfrute de (seus) desejos como
o maior objetivo, eles estão convencidos de que isso é tudo. Presos pelas
centenas de laços da esperança, viciados em luxúria e raiva, eles cobiçam obter
esta riqueza hoje, ‘Isto eu obterei mais tarde’, ‘Esta riqueza eu tenho’, ‘Esta
(riqueza) será minha além do mais’, ‘Este inimigo foi morto por mim’, ‘Eu matarei
outros’, ‘Eu sou o senhor’, ‘Eu sou o desfrutador’, ‘Eu sou bem sucedido,
poderoso, feliz’, ‘Eu sou rico e de nascimento nobre’, ‘Quem mais há que é como
eu?’, ‘Eu sacrificarei’, ‘Eu farei doações’, ‘Eu serei alegre’, assim iludidos pela
ignorância, jogados de lá para cá por numerosos pensamentos, envolvidos nas
redes da ilusão, apegados ao desfrute de objetos de desejo, eles afundam no
inferno hediondo. Presunçosos, teimosos, cheios de orgulho, e excitação de
riqueza, eles realizam sacrifícios que são nominalmente assim, com hipocrisia e
contra a ordenança (prescrita). Ligados à vaidade, poder, orgulho, luxúria e ira,
estes difamadores odeiam a Mim em seus próprios corpos e naqueles de outros.
Estes que tem ódio (de Mim), cruéis, os mais vis entre os homens, e pecaminosos,
eu lanço continuamente para baixo em úteros demoníacos. Entrando em úteros
demoníacos, iludidos nascimento após nascimento, eles, ó filho de Kunti, sem
alcançarem a Mim descem ao estado mais vil. Triplo é o caminho para o inferno,
desastroso para o ser, isto é, luxúria, ira, e avareza igualmente. Portanto, estes
três uma pessoa deve abandonar. Livre destes três portões da escuridão, um
homem, ó filho de Kunti, realiza seu próprio bem-estar, e então se dirige para sua
meta mais elevada. Aquele que, abandonando as ordenanças das escrituras, age
somente sob os impulsos do desejo, nunca alcança a perfeição, nem felicidade,
nem a meta mais sublime. Portanto, as escrituras devem ser tua autoridade em
determinar o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Cabe a ti trabalhar
aqui, tendo averiguado o que é declarado pelas ordenanças das escrituras.'"
78
41
"Arjuna disse, 'Qual é o estado, ó Krishna, daqueles que abandonando a
ordenança das escrituras, realizam sacrifícios dotados de fé? Ele é da Bondade,
ou Paixão, ou Ignorância?'
"O Santo disse, 'A fé das (criaturas) incorporadas é de três tipos. Ela é
(também) nascida de suas qualidades (individuais). Ela é boa, passional, e
tenebrosa. Ouça agora estas. A fé de uma pessoa, ó Bharata, é correspondente à
sua própria natureza. Um ser aqui é cheio de fé; e qualquer que seja a fé de uma
pessoa, ela é exatamente aquilo. Aqueles que são da qualidade de bondade
cultuam os deuses; aqueles que são da qualidade de paixão (cultuam) os Yakshas
e os Rakshasas; outras pessoas que são da qualidade de ignorância adoram os
espíritos mortos e hostes de Bhutas. Aquelas pessoas que praticam austeridades
ascéticas rígidas não ordenadas pelas escrituras, são entregues a hipocrisia e
orgulho, e dotadas de desejo de ligação, e violência, aquelas pessoas que não
possuem discernimento, torturando os grupos de órgãos em (seus) corpos e a
Mim também situado dentro (daqueles) corpos, devem ser reconhecidas como
sendo de resoluções demoníacas. Alimento o qual é precioso para todos é de três
tipos. Sacrifício, penitência, e doações são igualmente (de três tipos). Escute as
suas distinções como se segue. Aqueles tipos de alimento que aumentam o
período de vida, energia, força, saúde, bem-estar, e alegria, que são saborosos,
oleaginosos, nutritivos, e agradáveis, são gostados por Deus. Aqueles tipos de
alimento que são amargos, azedos, salgados, quentes demais, acres, secos, e
ardentes, e que produzem dor, aflição e doença, são desejados pelos passionais.
O alimento que é frio, sem sabor, mal cheiroso e estragado, e que é refugo, e sujo,
é querido por homens de ignorância. É bom aquele sacrifício que, sendo prescrito
pela ordenança, é realizado por pessoas sem qualquer desejo pelo resultado
(dele) e a mente sendo induzida (a ele sob a crença de) que sua realização é um
dever. Mas aquele que é realizado na expectativa de resultado e até por
ostentação, saiba que aquele sacrifício, ó principal dos filhos de Bharata, é da
qualidade de paixão. Aquele sacrifício que é contra a ordenança, no qual nenhum
alimento é distribuído, que é desprovido de mantras (versos sagrados), no qual
nenhuma taxa é paga aos brahmanas que auxiliam nele, e que é desprovido de fé,
é citado como sendo da qualidade de ignorância. Reverência aos deuses,
regenerados, preceptores, e homens de conhecimento, pureza, retidão, as
práticas de um Brahmacharin, e abstenção de ferir são citados como constituindo
a penitência do corpo. A fala que não causa agitação, que é verdadeira, que é
agradável e benéfica, e o estudo diligente dos Vedas, são citados como a
penitência da fala. Serenidade da mente, gentileza, taciturnidade, autodomínio, e
pureza da disposição, estes são citados como a penitência da mente. Esta
penitência tripla realizada com fé perfeita, por homens sem desejo de resultados,
e com devoção, é citada como da qualidade de bondade. Aquela penitência que é
realizada para (ganhar) respeito, honra, e reverência, com hipocrisia, (e) que é
instável e transitória é citada como da qualidade de paixão. Aquela penitência que
é realizada sob uma convicção iludida, com tortura de si mesmo, e para a
79
destruição de outro, é citada como da qualidade de ignorância. Aquela doação que
é dada porque ela deve ser dada, para alguém que não pode retornar algum
serviço por ela, em um momento apropriado, e para uma pessoa apropriada, é
citada como da qualidade de bondade. Aquela, no entanto, que é dada
relutantemente, por retorno de serviços (passados ou esperados), ou mesmo na
expectativa de resultado, aquela doação é citada como da qualidade de paixão.
Em um lugar inadequado e em um momento inapropriado, a doação que é feita
para um objeto indigno, sem respeito, e com desprezo, é citada como da
qualidade de ignorância. OM, TAT, SAT, esta é mencionada como a designação
tripla de Brahma. Por aquele (Brahma), os Brahmanas e os Vedas, e os Sacrifícios
foram ordenados antigamente. Portanto, proferindo a sílaba OM, os sacrifícios,
doações, e penitências prescritos pela ordenança, de todos os proferidores de
Brahma começam. Proferindo TAT, os vários ritos de sacrifício, penitência, e
doação, sem expectativa de resultados, são realizados por aqueles que estão
desejosos de libertação. SAT é empregada para denotar existência e bondade.
Igualmente, ó filho de Pritha, a palavra SAT é usada em qualquer ato auspicioso.
Constância em sacrifícios, em penitências e em doações, é também chamada
SAT, e uma ação, também, por causa d’Aquilo é chamada SAT. (Como as
palavras OM, TAT, e SAT denotam Brahma, quando usadas como instruído aqui,
tal uso cura os defeitos das respectivas ações às quais elas são aplicadas.)
Qualquer oblação que seja oferecida (ao fogo), o que quer que seja doado,
qualquer penitência que seja realizada, o que quer que seja feito, sem fé, é, ó filho
de Pritha, citado como o oposto de SAT; e isto é nada neste mundo e após a
morte.'”
42
"Arjuna disse, 'Da renúncia, ó tu de braços fortes, eu desejo saber a natureza
verdadeira, e também do abandono, ó senhor dos sentidos, claramente, ó matador
de Kesi.'
"O Santo disse, 'A rejeição das atividades com desejo é conhecida pelos
eruditos como renúncia. O abandono do resultado de todas as atividades os
discernentes chamam de abandono. Alguns homens sábios dizem que a (própria)
atividade deve ser abandonada como mal; outros (dizem) que atividades de
sacrifício, doações, e penitência não devem ser abandonadas. Quanto àquele
abandono, escute a minha decisão, ó melhor dos filhos de Bharata, pois o
abandono, ó tigre entre homens, é declarado como sendo de três tipos. Os
trabalhos de sacrifício, doações, e penitências não devem ser abandonados. Eles
devem, de fato, ser feitos. Sacrifícios, doações, e penitências são as purificações
dos sábios. Mas mesmo aqueles trabalhos devem ser feitos abandonando apego
e resultado. Esta, ó filho de Pritha, é minha opinião excelente e decidida. A
renúncia de uma ação prescrita (nas escrituras) não é apropriada. Seu abandono
(é) por ilusão, (e) é (portanto) declarado como sendo da qualidade de ignorância.
(Considerando-o) como (uma fonte de) tristeza, quando o trabalho é abandonado
por (medo de) dor corpórea, a pessoa que faz tal abandono o qual é da qualidade
de paixão nunca obtém o fruto do abandono. (Considerando-o) como algo que
80
deve ser feito, quando o trabalho que é prescrito (nas escrituras) é feito, ó Arjuna,
abandonando apego e resultado também, aquele abandono é considerado da
qualidade de bondade. Possuidor de inteligência e com dúvidas dissipadas, um
renunciante que é dotado da qualidade de bondade não tem aversão por uma
ação desagradável e nenhuma atração pelas agradáveis. Já que as ações não
podem ser absolutamente abandonadas por um ser incorporado, (portanto) aquele
que abandona o resultado das ações é verdadeiramente considerado um
renunciante. Ação má, boa e mesclada tem (esse) resultado triplo após a morte
para aqueles que não abandonam. Mas não há nenhum de qualquer tipo para o
renunciante. Ouça-me, ó tu de armas poderosas, àquelas cinco causas para a
conclusão de todas as ações, declaradas no Sankhya que trata da aniquilação das
ações. (Elas são) substrato, agente, as diversas espécies de órgãos, os diversos
esforços separadamente, e com eles as divindades como a quinta. (O substrato é
o corpo. O agente é a pessoa que pensa que ela mesma é o ator. Os órgãos são
aqueles de percepção etc. Os esforços são as ações dos ares vitais, Prana, etc.
As divindades são aquelas que presidem sobre a visão e os outros sentidos.) Com
corpo, fala, ou mente, qualquer atividade, justa ou o contrário, que um homem
empreenda, estas cinco são suas causas. Isso sendo assim, aquele que, devido a
uma compreensão não refinada, vê somente a si mesmo como o agente, ele, de
mente obtusa, não vê. Aquele que não tem sentimento de egoísmo (que não se
considera como o fazedor), cuja mente não é maculada (pela mancha do desejo
de resultado), ele, mesmo matando todas estas pessoas, não mata, nem é
agrilhoado (pela ação). Conhecimento, o objeto de conhecimento, e o conhecedor
formam o triplo impulso da ação. Instrumento, ação, e o agente formam o
complemento triplo da ação. Conhecimento, ação, e agente são declarados na
enumeração de qualidades (no sistema Sankhya) como sendo triplos, de acordo
com a diferença de qualidades. Escute isso também devidamente. Aquele pelo
qual Uma Essência Eterna é vista em todas as coisas, indivisa no dividido, saiba
que aquele é o conhecimento que tem a qualidade de bondade. Aquele
conhecimento que discerne todas as coisas como diversas essências de
diferentes tipos por sua separatividade, saiba que aquele conhecimento tem a
qualidade de paixão. Mas aquele o qual é ligado a (cada) objeto único como se ele
fosse o todo, o qual é sem bom senso, sem verdade, e desprezível, aquele
conhecimento é citado como da qualidade de ignorância. A ação que é prescrita
(pelas escrituras), (feita) sem apego, realizada sem desejos e aversão, por alguém
que não anseia por (seu) resultado, é citado como sendo da qualidade de
bondade. Mas aquela ação que é feita por alguém procurando objetos de desejo,
ou por alguém cheio de egoísmo, e que é acompanhada por grande incômodo, é
citada como da qualidade de paixão. Aquela ação que é empreendida por ilusão,
sem consideração pelas consequências, perda, dano (para outros), e (pelo
próprio) poder também, é citada como da qualidade de ignorância. O agente que é
livre de apego, que nunca fala dele mesmo, que é dotado de constância e energia,
e é inalterado por sucesso e derrota, é mencionado como sendo da qualidade de
bondade. O agente que é cheios de afeições, que deseja o resultado das ações,
que é cobiçoso, dotado de crueldade, e impuro, e que sente alegria e tristeza, é
declarado como da qualidade de paixão. O agente que é desprovido de aplicação,
sem discernimento, teimoso, enganador, malicioso, indolente, desanimado, e
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procrastinador, é citado como da qualidade de ignorância. Ouça agora, ó
Dhananjaya, a divisão tripla de intelecto e constância, segundo suas qualidades,
os quais eu estou prestes a declarar exaustivamente e claramente. O intelecto que
conhece ação e inação, o que deve ser feito e o que não deve ser feito, medo e
destemor, escravidão e libertação, é, ó filho de Pritha, da qualidade de bondade. O
intelecto pelo qual uma pessoa discerne imperfeitamente certo e errado, aquilo
que deve ser feito e aquilo que não deve ser feito, é, ó filho de Pritha, da qualidade
de paixão. Aquele intelecto que, coberto pela escuridão, considera errado como
certo, e todas coisas como invertidas, é, ó filho de Pritha, da qualidade de
ignorância. Aquela constância inabalável pela qual uma pessoa controla as
funções da mente, os ares vitais, e os sentidos, através da devoção, aquela
constância, é, ó filho de Pritha, da qualidade de bondade. Mas aquela constância,
ó Arjuna, pela qual alguém adere a religião, desejo, e lucro, por apego, desejando
o resultado, aquela constância, ó filho de Pritha, é da qualidade de paixão. Aquela
pela qual uma pessoa sem discernimento não abandona torpor, medo, tristeza,
desânimo, e tolice, aquela constância é considerada da qualidade de ignorância.
Ouça agora de mim, ó touro da raça Bharata, sobre os três tipos de felicidade.
Aquela na qual alguém encontra satisfação da repetição (do prazer), a qual traz
um fim à dor, que é como veneno no princípio mas parece néctar no fim, aquela
felicidade nascida da serenidade produzida pelo autoconhecimento, é citada como
sendo da qualidade de bondade. Aquela que é proveniente do contato dos
sentidos com seus objetos a qual parece néctar primeiro mas é como veneno no
fim, aquela felicidade é considerada da qualidade de paixão. Aquela felicidade a
qual no início e em suas consequências ilude a alma, e surge do torpor,
indolência, e estupidez, é descrita como da qualidade de ignorância. Não há, nem
na terra nem no céu entre os deuses, a entidade que está livre destas três
qualidades nascidas da natureza. Os deveres de Brahmanas, Kshatriyas, e
Vaisyas, e de Sudras também, ó castigador de inimigos, são distinguidos por
(essas três) qualidades nascidas da natureza. Tranquilidade, autodomínio,
austeridades ascéticas, pureza, perdão, retidão, conhecimento, experiência, e fé
(na existência futura), são os deveres dos Brahmanas, nascidos da (própria)
natureza (deles). Coragem, energia, firmeza, habilidade, não fugir da batalha,
generosidade, a conduta de um soberano, estes são os deveres dos Kshatriyas,
nascidos de (sua própria) natureza. Agricultura, criação de gado, e comércio, são
os deveres naturais dos Vaisyas. Dos Sudras também, o dever natural consiste
em servidão. Todo homem, dedicado aos seus próprios deveres, alcança a
perfeição. Ouça agora como alguém obtém perfeição por aplicação aos seus
deveres. Ele de quem são os movimentos de todos os seres, Ele por quem tudo
isso é permeado, reverenciando a Ele (pelo cumprimento) do próprio dever, uma
pessoa obtém perfeição. Melhor é o próprio dever embora realizado
imperfeitamente do que o dever de outro bem realizado. Realizando o dever
prescrito por (sua própria) natureza, uma pessoa não incorre em pecado. Não se
deve abandonar, ó filho de Kunti, o próprio dever natural embora maculado pelo
mal, pois todas as ações estão envolvidas pelo mal como fogo por fumaça. Aquele
cuja mente é livre em todos os lugares, que subjugou sua personalidade, e cujo
desejo pereceu, obtém, através da renúncia, a perfeição suprema da liberdade de
atividade. Aprenda de mim, somente em resumo, ó filho de Kunti, como uma
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pessoa, tendo obtido (esse tipo de) perfeição, alcança Brahma que é o fim
supremo do conhecimento. Dotado de uma mente pura, e controlando a si mesmo
pela constância, renunciando a som e outros objetos dos sentidos, e abandonando
afeição e aversão, aquele que reside em um lugar solitário, come pouco, e
controla a fala, corpo, e mente, que está sempre concentrado em meditação e
abstração, que recorreu à indiferença, que, abandonando egoísmo, violência,
orgulho, luxúria, ira, e (todos os) circundantes, está livre de egoísmo e é tranquilo
(em mente), torna-se apto para assimilação com Brahma. Tornando-se una com
Brahma, tranquila em espírito, (tal) pessoa não se aflige, não deseja; igual para
com todos os seres, ela obtém a maior devoção por Mim. Por (aquela) devoção
ela realmente compreende a Mim. O que Eu sou, e quem Eu sou; então
compreendendo a Mim realmente, ela entra em Mim em seguida. Realizando
todas as ações em todos os momentos tendo se refugiado em Mim, ela alcança,
por meu favor, a base que é eterna e imperecível. Dedicando em teu coração
todas as ações a Mim, sendo devotado a Mim, recorrendo à abstração mental, fixe
teus pensamentos constantemente em Mim. Fixando teus pensamentos em Mim,
tu superarás todas as dificuldades por minha graça. Mas se por presunção tu não
escutares, tu (então) perecerás totalmente. Se, recorrendo à presunção, tu
pensares ‘Não lutarei’, aquela tua resolução será inútil, (pois) a Natureza te
obrigará. Aquilo que, por ilusão, tu não desejares fazer, tu farás involuntariamente,
obrigado por teu próprio dever que nasce da (tua própria) natureza. O Senhor, ó
Arjuna, mora na região do coração dos seres, girando todos os seres como se
colocados sobre uma máquina, por seu poder ilusório. Procure abrigo com Ele de
todas as maneiras, ó Bharata. Por sua graça tu obterás tranquilidade suprema, a
base eterna. Assim foi declarado a ti por Mim o conhecimento que é mais
misterioso do que qualquer (outro) assunto. Refletindo sobre isto detalhadamente,
aja como tu quiseres. Mais uma vez, escute as minhas palavras sublimes, as mais
misteriosas de todas. Tu és muitíssimo amado por Mim, portanto, eu declararei o
que é para teu benefício. Fixe teu coração em Mim, torne-te Meu devoto,
sacrifique para Mim, reverencie a Mim. Então tu virás a Mim. Eu te declaro
verdadeiramente, (pois) tu és querido para Mim. Abandonando todos os deveres
(religiosos), venha a Mim como teu único refúgio. Eu te libertarei de todos os
pecados. Não te aflijas. Isto nunca deve ser revelado por ti para alguém que não
pratica austeridades, para alguém que não é um devoto, para alguém que nunca
serviu um preceptor, nem ainda para alguém que calunia a Mim. Aquele que
inculcar este mistério supremo àqueles que são devotados a Mim, me oferecendo
a devoção mais sublime, virá a Mim, livre de (todas as suas) dúvidas. Entre os
homens não há ninguém que possa me fazer um serviço mais precioso do que
ele, nem algum outro sobre a terra será mais estimado por Mim do que ele. E
aquele que estudar esta santa conversa entre nós, por ele será oferecido a Mim o
sacrifício do conhecimento. Tal é minha opinião. Até o homem que, com fé e sem
contestar capciosamente, a ouvir (ler), ele mesmo livre (do renascimento),
alcançará as regiões abençoadas daqueles que realizam ações virtuosas. Isto, ó
filho de Pritha, foi ouvido por ti com mente não dirigida para quaisquer outros
objetos? Tua ilusão, (causada) pela ignorância, foi destruída, ó Dhananjaya?'
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"Arjuna disse, 'Minha ilusão foi destruída, e a recordação (do que eu sou) foi
obtida por mim, ó Imperecível, por tua graça. Eu agora estou resoluto. Minhas
dúvidas foram dissipadas. Eu farei o que tu dizes.'"
Sanjaya continuou, "Assim eu ouvi esta conversa entre Vasudeva e o filho de
grande alma de Pritha, (que é) maravilhosa e faz os cabelos se arrepiarem. Pela
bênção de Vyasa eu ouvi este mistério supremo, esta (doutrina do) Yoga, do
próprio Krishna, o Senhor do Yoga, que declarou isto pessoalmente. Ó rei,
lembrando e (novamente) lembrando daquela conversa magnífica (e) sagrada de
Kesava e Arjuna, eu me regozijo repetidamente. Lembrando repetidas vezes
daquela forma extraordinária também de Hari, grande é meu assombro, ó rei, e eu
me regozijo sempre mais. Lá onde Krishna, o Senhor do Yoga (está), lá onde o
grande arqueiro (Partha) está, lá, na minha opinião, se encontram prosperidade, e
vitória, e grandeza, e justiça eterna.'"
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